Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Julho

É um mês bonito ou frio demais aqui no sul, mas especificamente naquele ano, julho era um mês sem frio.

Eu não me lembro as datas nem horários certos. mas foi naquele dia em que ele olhou. Depois de oito anos olhou para um de seus entes amados. Depois de oito anos pode rezar em silêncio essa oração que se faz entre dois entes amados.

Parecia inédito que a vida pudesse lhe dar tal presente e embora toda a felicidade no peito pequeno é que arfava em utilizar todas as formas que aprendera de fingir não sentir absolutamente nada.

Quem lhe ensinara aquilo? Ele, que estava a sua frente e frente-a-frente também pensou e relembrou de um tempo sincero.

Em 2008 o passado se ergueu. naquele dia uma estátuta foi construída com o calor de inverno. Naquele dia ele e o outro compreenderam que o mistério era sempre maior que suas vontades tolas e discretas. mas estavam felizes, sim estavam, em cada canto cada um exprimia ou tentava ou às vezes divagava sem que ninguém os perturbasse.

Todos sabiam que havia um re-encontro necessário. todos respeitaram que haviam feito o possível de um encontro por tantos anos protelado.

Todos indubitavelmente respeitaram as reações de personagens tão simples e humildes: um reencontro de tantos anos não é algo fácil de se observar.

O pequeno e o feio, é assim que vou chamá-los a partir daqui.

Muitas vezes, porque este era o dia inicial, eu irei de encontro a esta cena: se passava em julho e estava quente, dois homens não se viam depois de oito anos, eles mal se falaram naquele dia, mas daí acreditaram em deus (eu acho), eles sorriram quando podiam sorrir sozinhos, de cabeça alta sem que ninguém visse ou vendo não os perturbassem. Era um dia especial pois ao final da tarde ainda estavam no mesmo lugar, rodeando-se entre si ou esperando-se entre si ao menos que um chamasse o outro pelo nome verdadeiro. nem um nem o outro se chamaram.

Não era o fato de estarem presentes por si só inominais?
Quando eles retornariam a se ver? Mais oito anos? Eles nem se lembrarem de ter desta dúvida, porque o dia passou e por fim se cumprimentaram como dois cavalheiros, como dois homens gentis, como dois irmãos que tinham para compartilhar o que não se compartilha entre os vivos. É que eles tiveram a mente mórbida durante anos... é que eles, e sobretudo o pequeno, nunca foram dados ao arrebatamento que desocializa, pelo contrário, encontraram métodos de peramanecerem aparentemente certos e disfarçados do amor passado e peramenceram aparentemente certos de uma vida certa de formaturas, casamentos, trabalhos.

Nada que alguém pudesse nunca lhes apontar o dedo e dizer: loucos.
Embora mesmo assim tenham dito.

Um transformou o interrompimento em letras e o outro em suor. E essa é uma história verdadeira.

Ainda no século vinte um, depois do grande anúncio de que tudo mudaria tudo, tudo mesmo, existiam pessoas que amavam, que haviam sido traídas, pessoas que sentiam ciúmes e pessoas, acreditem, que ainda acreditavam na esperança de se encontrarem um dia e poderem uma hora ou um minuto que fosse dizerem, um ao outro: eu estou feliz ao te rever.

Passaram-se oito meses desde este dia e eles nunca mais se viram. Até acreditaram que o tempo generoso poderia bem ter transformado os próximos oito anos em apenas oito meses que eles conseguiram manter em serenidade, porque eram gratos daquele encontro sortuíto.
Porém, neste romance não era só o tempo o inimigo, era também o destino, a ironia e os segredos, tantos e tantos, que é preciso dividir em capítulos para que não se perca um só fio da jornada corajosa que pela espera enfrentaram.

Normalmente é amor se dois homens conseguem se beijar na boca.
Mas naquela história não. E pelos fatos contextuais - ainda não explicitados - porque todos os personagens aparecerão ainda - eles já sabiam que o reencontro, passado a gratidão, tinha sido mais um momento de distração do destino do que propriamente um presente de deus.

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