Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

Páginas lidas

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Réquiem 1.994

Havia uma parte que eu não sabia do pequeno. Uma parte do qual ele se fazia para si mesmo e para mim, intocável: distante: embora não fosse discreto: já que de demência corre a neblina.

Naqueles cinco últimos dias de 2008 voltara à quadra de tênis, onde levara as crianças de um tal projeto esperança várias vezes. A quadra de tênis era maior que um templo sagrado pra si. Naqueles dias com as crianças semestrais brindava e orava, se podia dizer isso desta criatura opróbio de amores: um sorriso bobo. Ainda tinha risos, esse pequeno?

Ainda tinha controle sobre o mundo lá de fora que o dominava mais que a tudo: encontrara amor de certo entre todas as crituras selvagens dessa mata atlântica imensa que se desdobrava de um centro oeste ao sul. Nada para cima, não, não sabia deste verbo. Tinha medo do mar.

Obstruído de futuros, com lástima e perdão de si mesmo. Talvez fosse esse o caminho de coração letal. O perdão. Não se comete enganos por acaso, pensou cientificamente. E as coincidências estavam todas postas ao chão de tênis: bolas que as crianças jogam mais como ping-pongs, educar é um verbo indecente e incoerente nesses dias de hoje. É um verbo ainda?

Ele perdera as forças gramaticais e literalmente sucumbiu a uma doença distante. Era uma doença de joelhos: sim, fora até lá, era mais perto que Brasília afinal.

Os dias de chuva tinham passado pela ilha, cemitérios de algumas trajédias que ele evitou olhar. Embora não abstraísse, pois o mundo é maior. Na floresta ainda que se fuja ouve o ronco do urso e a pantera aconchegada sob seus próprios olhos: admirando sua próxima caça.

A quadra estava ainda molhada. Talvez dos soluços que tentara dar em suas idas à quadra e que as crianças inadivertidamente o distraía de si. Era bom, que houvesse humanidade menor que a sua e mais suave também, mais espontânea: ficariam um dia tristes numa quadra em dias de sol ou cinza? Importava que não chovesse isso sim.

Naqueles últimos dias não havia nem criança dentro de si. Matara com a orquídea, flor cruel, embora linda, belíssima de pétalas encantadoras parecendo insetos mortuários: insetos que quando vivos servia a morder e beliscar e encher os olhos de esquisitices. Agora flor.

E materializada ainda, flor, em que tipo de estrutura coloca tuas raízes? Raízes em chão de cimento valem o chão de cinzas. Talvez, pensasse assim, e por isso dobrasse os joelhos sem vergonha dos carros que passassem e ali fazia sua última oração: seja feliz meu feio, meu pobre feio.

Era uma maneira de se libertar de seu primeiro amor. Também.

Se libertara de todos os outros e viveria mais quatro dias, até o final de 2008.

Réquiem, réquiem ao coração tardio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário