Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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sexta-feira, 20 de março de 2009

Rio de Janeiro Y

- Se você não gosta do frio nem do inverno eu não entendo como pensa em voltar ao sul. E naquela ilha?

- Eu não volto pra ilha, vou direto para os meus intentos. Na ilha é preciso de dinheiro...

- Eu te dou!

- Eu já aceitei algumas vezes o teu esquema, mas desde a minha vinda pra cá, nunca mais.

E era verdade que durante os longos anos que estiveram juntos o pequeno de certo modo aceitara certas coisas, mas não mais.

Nunca se falou em compra e venda ou papos assim banais para o que sentiam. Quando estavam juntos eram sempre tão confortáveis ou ao passar dos tempos desconfortáveis tamanhos que não se aprofundavam em detalhes de economia ou sentidos de moralidades. Se algo lhes perturbava mais era não encontrarem a saída exata de estarem juntos todos os dias por todos os dias que lhes prouvesse o destino.

O pequeno veio passar férias com a mãe e o irmão e no sul resolvera que o Rio realmente já não era pra si. Olhava pela janela, a mãe sempre se questionava dos por quês daqueles olhos tristes no céu, nem era no mar, que se via imenso dali. Era no céu que encontrava horrores, meu filho?

- Nada mãe.

Mas somente com a mãe é que mesmo guardando segredo de anos sobre aquela relação doentia e mesmo já tendo guardado segredo de anos do outro amor que foi o engano, ele se sentia a vontade de ao menos sofrer com alguém. A mãe, coitada, era essa pessoa no qual o filho sentia que podia ao menos fingir menos. Ainda que não falasse nada e que por isso, causava alguns conflitos de ordem pragmática: o que posso fazer por ti?

- Nada mãe.

Tinha pela mãe, é preciso esse adento, um orgulho e uma falta: por que ela não ensinara os filhos realmente o que era o amor? Por que não mostrara logo, tão logo os filhos existissem, que tudo era farsa? Porque não acreditava que havia farsa no amor? Não, por que no fundo é imoral ensinar aos filhos o que de fato sentem os adultos de verdade. Desde cedo portanto todos nós aprendemos por meio de mentiras. Até deus era apenas uma formalidade social para que os filhos apenas não saíssem por aí cultuando o diabo e trazendo constragimentos sem utilidades para a família.

Sabe-se lá, mas a educação ainda é pouca e pouco preparao se pode dar há um homem, qualquer que seja, e há uma mulher quando o tema é paixão. E é por isso que os escritores e poetas persistem no tema que a ciência já baniu, que ao Estado pouco interessa e que as religiões não dão crédito certo já que envolvem tabus dispensáveis. Deixe pelos romances, novelas e filmes, que o ser humano descubra, aprenda por si mesmo e depois se cale e repasse aos filhos as mesmas bobagens como verdades inteiras.

Esse interim de férias no sul era o X. Era o X localizado numa geografia mental que estava em vários lugares ao mesmo tempo até mesmo em sua própria alma, coisa que tentava esquecer que existia no corpo.

- Pelo corpo e somente por ele mãe, eu fiz tudo certo. Quando olho assim, é por nada, talvez porque me sinta evocado. Mas não passo do chão, o céu é grande demais e vermelho no verão me dá medo. Não se preocupe. Só sairei voando quando o que me evoca for mais forte que a física corrente do nosso planeta.

Mas sabia que daquelas férias tiraria mais uma vez uma decisão. Reviu muitos papéis nunca passados a limpo e viu que tinha muitos guardados com a mãe, intocáveis que a mãe respeitava. Resolveu que não poderia estar com o rico tendo ainda esta missão a cumprir e outra: acreditou que seu último romance escrito já teria concluído as idéias criativas e, portanto, se intensificasse sua missão de escritor poderia, por fim, se render ao nordeste.

Foi quando voltou ao Rio. Sentia-se livre, muito, parecia que agora sim estava sendo coerente e daria notícias ao príncipe que verdade mesmo era mais belo quanto mais envelhecia. E envelhecer aos quarenta nem existe? Tinha riso para pegar um ônibus por horas. Voltava todo decidido. Todo alegre. Todo evocado a ser correto nessa vida. Contaria a notícia do que seria o futuro, mas não do processo. Evidentemente, precisava distrair o rico, com o tal namorado inventado, conseguiria ao menos tempo... calculou, pois a mente sempre volta um pouco às antigas tradições.

Vamos dizer que uma biba assim, acumulada de desejos, de sonhos, acumulada de tudo o que lemos até aqui não tenha passado pelo espírito de outros homens? Foram apenas quatro encontros no Rio de Janeiro com o seu amor... E as outras pessoas do mundo não exisitiram? Estavam díspares desses movimentos íntimos, é verdade. Mas o pobrezito continuava vivo. E como não é de espantar num tempo paralelo, ou nos ambientes paralelos, que era o que lhe passava a maior parte dos dias - quatro encontros por meses sozinho - pensem, quantos se arrastaram no seu rastro que ainda era quente, era feito de carne, não somente como essa história recorta.

Aí é que enquanto eu poderia deixar a vida do pequeno mais heróica não poderia deixar de pelo menos apontar dois seres que se transtornaram pela presença desse catarinense do centro-oeste ou vice-versa. Como nos lembraremos do louco lá dos primeiros capítulos, um destes acreditou talvez por um poema escrito numa folha com certas letras que poderiam mesmo levar ao seu nome, mas que não eram pra si. Era a maneira óbvia de o pequeno burlar certos poemas que ele nunca quis escrever. Sabe, quando a gente brinca de anagramas e o tiro sai pela culatra: há quem decifre de acordo com seus desejos. E isso alimenta uma alma atraída, alimenta alimenta.

O nosso pequeno, realmente, não era tão displicente assim que não tivesse percebido. Mas tinha a frieza de saber que os dois coitados não tinham paradeiro na história, ainda que por ele se transtornassem um pouco de suas vidas. Não podia também simplesmente dizer: vocês estão enganado. Não. Ele sabia o que era a dor de ouvir dessas verdades. Então, como sempre fazia, se desviava, mas para não levantar suspeitas também alimentava os coitados de agrados e presentes. Nunca levantar a primeira suspeita de que no fundo se escondia um mundo que ele calculou tim-tim por tim-tim a vida inteira.

Deu a entender que a um deles amava. O que no contexto as pessoas acreditavam. Ou ao menos duvidavam. Era a dúvida por uma mentira muito bem criada. Perverso pequeno que do mundo externo pouco fazia caso. Pelo menos o rico estaria todo protegido.

Mas nenhum deles servia para o tal namorado que deveria ter. Estes eram apenas vítimas de passionalidades platônicas, por que não? Se com ele mesmo aconteceu, se lembrava raramente que pudesse ter acontecido. Apenas não maltrava tanto, conquanto os platônicos já se maltratam o bastante coem suas covardias.

O que mudou tudo foi na semana em que voltara ao Rio das férias. Anunciaria a todos de então no momento certo que voltaria ao sul. Precisava mesmo de um namorado para que, sendo vigiado sempre pelo rico, ele pudesse comprovar com as suas comprovações que sempre existiriam.

Por isso calculava um namoro, percebam, não era apenas perversidade portanto. E a vítima surgiu como a luva caída dos céus bem rente entre os dedos dos escolhidos.

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