Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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quinta-feira, 19 de março de 2009

Rio de Janeiro II

E de fato, sem pensar em relembranças, sem remoer os pulsos do peito, já tendo esquecido há muito tempo a presença consciente do feio. Já tendo esclarecido há pouco o fortuito movimento de união e separação constante com o rico. O Pequeno se foi longe nos braços de si.

Era uma vitória que aos poucos se tornava vitória por si só, esquecera do quê vencera. Era vitorioso.

Enquanto, às vezes, até chegava a imaginar que nunca tivera amor algum e isso lhe surgia como uma verdade! Era mesmo como outro ser, quase virgem, não fossem as inúmeras masturbações que lhe protegiam de envolvimentos quaisquer com outros homens. Estava virgem e precisava amar de novo um primeiro amor de virgem, porque dos outros, destes que sabemos, naquele período, ele já esquecera.

Fundalmentalmente como fazem os espíritos a se reencarnarem, tinha vagas memórias e sensações de intuir que talvez soubesse o que eram esses sentimentos anímicos... Mas vivia e sobrevivia uma vida de luxo consigo: luxo de si mesmo: luxo de ser virgem em meio ao caos.

Como sabemos não temia nada. Isso também era um luxo. Nascera no Rio como um verdadeiro e imponente deus-ninguém. Deus-comédia. Deus-sem-que-nem-pra-quê: viril até. E estrangeiro.

Onde antes fora escritor premiado agora era ninguém.
Onde antes fora amante e enamorado de homens fortes nem sabia disso!
Onde antes fora também um enlouquecedor de garotos frágeis, se escondia, para melhor performance, em meio às suas poucas vestes, todas baratas.

Passar despercebidos por bocas e mendigos era tão sedutor quanto por famosos e importantes da área cultural. No entanto, com seu jeito sempre displicente é que agradava aos poucos o seu público, e o seu contexto, muito lentamente viria a ser a seu favor.

Trabalhou. E o seu suor catacandango é que lhe definiria como um ser extra-tropical, capaz de mim habilidades inclusive a de: passar despercebido e ainda assim tirar pedras do caminho.

Dois anjos muito lhe ajudaram, e eram fêmeas. E eram, sem dúvida, amáveis.

Mas, como aqui se trata das passionalidades e não fraternidades desse rapaz, já quase um trintão, iremos tão logo ao ponto... por que do primeiro capítulo ao segundo, no esquecimento que ele nos faz assistir, eu mesmo entro: e me recordo por ele de um dia ter seguido por decisões que tudo tem a ver, pobre, com o seu coração errado.

Talvez nunca quisesse admitir que no fundo fugia em vez de ser livre. Mas não é assim, que se importa ainda os resultados e não as causas?

Enfim, fugia sim, admitamos, do rico principalmente, porque aprendera assim com o feio. Mas claro, o rico tinha segredos demais inadmissíveis para uma alma que crescera naquela relação: enquanto se relacionaram de 1997 a 2005, pensemos, no quanto essa alma crescera de humanidades, de sociais preocupações, de verdades verdadeiras, mais amplas talvez... e com isso também das impotências. Devidamente um homem que passa a ser homem antes não é preparado para assumir as impotências que lhe causam o impacto de não poder fazer nada, nada pelos que estão perdidos. Devidamente um homem que passa a ser homem antes saberá que é perdido igual. Devidamente quando lia ou ouvia sobre o labirinto de uma sociedade cheia de impactos é que perturbou o Rico e amendrotou o próprio corpo de reviravoltas patológicas.

Amar o rico em todas as instâncias era demais para alguém que estava a ponto de se descobrir um pouco menos pequeno.

Ou seja, para resumir acima, enquanto iam e vinham de cidade a outra, os seus conflitos íntimos em relação ao rico aumentavam porque lhe aumentavam a capacidade crítica de não saber lidar com o monstro e não saber largá-lo. De querer tanto tanto que pudesse ser diferente, mas ao mesmo tempo, por crer na liberdade humana, de não julgá-lo nunca. Talvez esperasse pelo paraíso e, para tanto, e para não ir aos infernos também (pois não era nada maniqueísta), ele preferiu optar por fugir.

O rico também aumentava em seu orgulho e glória infeliz de conquistar mundos por meios secretos. Não se pode dizer que seja ilegal aquela que pela legalidade dos fatos inrrompe em riquezas e delas se aproveita. Mas se pode dizer sim que o rico tinha aprendido a ter uma única esperança nessa vida: ser todo do pequeno num mundo todo de encanto. Que a liberdade do pequeno era linda e lhe permitiu crescer, mas quantas vezes chorou em seu canto luxuoso que o pequeno lhe devolvesse toda a dignidade apenas se pedisse, ou o citasse: vamos fazer diferentes do que temos feito? Vamos recomeçar daqui.

Mas não sozinho. Não sozinhos mais. Sozinhos continuariam a procriar tudo. E tudo seria culpa era do nosso deus-feiticeiro. Que agora aprendia feitiços com pó e ratos da megalópole e um pouco de areia do mar que sempre ia até a lapa, de alguma forma pra dizer: sim, o mar está aqui meu menino...

Mas ele não gostava de mar. Ele gostava de céu e por isso passava mais tempo olhando ao Cristo e detectando estátuas que ficam por cima da população. Uma delas, tinha uma serpente enorme. Ele adorava, parecia entregue por vampiros quentes! Outra uma santa, onde cobras lhe faziam reverência ou temor, nunca soube. Eram para o alto os seus olhos e quando vinha chuva forte os olhos a acompanhavam de novo ao chão.

Nem o rico tinha o seu endereço.
E sobre o feio, a notícia era que tinha se encontrado em monumentar o pequeno como um fato isolado: desses quadros que se penduram na parede e não se tiram mais, mas depois de tanto tempo nem é mais percebido. Gestalt.

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