Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Outono oito

Não tenhamos pressa, que este outono é rigoroso e os avisos já foram dados.

De alguma forma você morre pela boca, e sobrevive ainda. Pequenos poderiam ser estes dias em que não nos matam a dor, não?

Mas voltemos à eles, aos dias. Após o filme o pequeno se levantara e correra ao quarto. Tomou de inúmeras e variáveis fórmulas químicas quando psicológica podia.

Esperar é não seguir em frente, amigo, ouvia. Ouvia. Ouvia. E escutou que não havia esperança, apesar da espera. Havia um quadro em sua frente, muitos o temiam e eu na minha frágil memória me lembro pouco de ter narrado, porém darei a continuidade aos fatos da seguinte forma:
Que ele se levantou do chão.
Que não se desesperou.
Que olhou para a imagem da freira mórbida.
Que virou o quadro e lá estava:
o diabo.

Como um psicopata faria com sua vítima, o nosso amiguinho conservou as mãos seguras e deliciou-se com o mistério pronto. Virou o quadro de cabeça para baixo e viu assim o demônio e sorriu.

- Como?

E deu continuidade ao riso:

- Como?

Era surpreendente a forma como se surpreendia e aos coitados familiares que viram seu vulto pegar uma enorme faca, mas não puderam acreditar no intento. Imediatamente o garoto voltava à sala. Antes de prestar à loucura, talvez lhe ocorresse que fosse de bem conversar mais uma vez com a mãe e talvez tentar obter respostas.

- Agora me dei conta, mãe, que não tem saída. Esperar é esperar e tu precisas me dizer como.

A mãe, sentada, lhe retrucou a resposta do antigo "como como?" e o antigo "como como?" se tornaria triplo se não fosse perpicaz do pequeno parar com aquilo. Ninguém humana raça lhe daria respostas. Que no fundo ele já sabia. Olhou para as próprias mãos e voltou ao quarto.

Lá estava a faca, lá estava o diabo de cabeça pra baixo. Lá estava o último ícone que lhe perseguiu tanto quanto deus em vida.

Lembrou-se do último sonho que tivera com ele, e que no Rio não o obcediara. O Cristo era tão forte assim, capeta? Sorriu. Não, ele não te trará respostas, pequeno, acabe com isso e acabe já.

Decidiu tomar mais remédio e não trabalhar de novo, era uma quarta ou terça-feira, era um dia desses que atentara contra seus próprios critérios. Virou de novo à freira: e rezou.

Rezou com fé. Ou se ele havia alguma.

O último sonho, depois de vários, desde aquele dia da voz ouvida na sala dos 17 anos no metal daquela tarde, fora também em Brasília. Era certo que lá também virara as costas ao demo, num sonho muito interessante e eis que narrarei o que me foi dado:
"Chegara ao inferno, ou o que isso fosse, sozinho. Um de seus membros séquitos se surpreendeu. O portão estava aberto. Sempre estará pra você. Que saudades! Eu também, e se abraçaram longamente. Pediu que esperasse, ele quer falar contigo. Eu também quero. Ele sente saudades, eu também sinto. Espere aqui nesta sala. Naquela sala havia vários seres deformados no que ele acariciara maliciosamente, ele, o pequeno, não o que esperava. Voltara o mensageiro amigo dizendo que dessa vez o grande iria lhe visitar, como sempre prometido, iria até o seu apartamento, o da tia que lhe acolhia. Mas a tia sentiria medo?! E tu, sentirias? Não, claro que não. Então atenda. É uma pena que não por esta noite, é uma pena...
Na saída havia uma piscina cheia também de moedas. Muitas moedas e ele viu muitas moedas. No chão, no pátio, a árvore semi ressecada. Era qual estação? Muitas moedas brilhavam. Se agachou para pegá-las e lembrou-se de que nunca ousaria roubar uma peça do eterno coitado. Não, não fora bem isso, nunca faria isso com seu querido diabo, e já que lhe concedia uma visita, tão especial assim, de ter que subir à terra, que não fosse para acusá-lo de ladrão. Não?"

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