Era daquele jeito: tendo novas esperanças. Era daquele jeito que permitiu, pela primeira vez, imaginar que todos eles haviam morrido. Tinha nenhuma carta, nem um verso em 2008 que pudesse comprovar amor: era desse jeito. Fora o orquídea, um delírio. Era daquele jeito que imaginou: qual realidade lhe cabia.
Viver era fácil demais em seu minúsculo organismo. Viver era tão fácil: arranjar um emprego, por as pernas a andar, sair por aí. Fingir. E fazer planos e concretizá-los: como alguém não conseguia isso? Alguém que desconhecesse mesmo a loucura e aí viveria ou deveria viver mais feliz. Graças a deus todos ao seu redor eram felizes.
Se a realidade fosse um conjunto de ficção como o orquídea, como um conjunto de ficção interferia tão diretamente na vida alheia?
Tinha dor nos dedos: talvez um tipo de câncer ao inverso: é o tipo de câncer que o impulsiona ao desbravamento de uma história que está por vir. Seguiu esta idéia com outro romance, paralelo ao Orquídea. Pois lembremos que durou oito meses do penúltimo capítulo ao último: até que o homem viesse e lhe desse material presencial. Nem tudo era ficção. Nem tudo: preste atenção.
Atençãozinha só. As histórias que se seguiriam serviriam de passagem ainda pelo seu corpo: mas quanto mais seu corpo fosse seu mesmo e nunca mais de outro, ele estaria sóbrio e poderia se embebedar de si - sem mais explicações. Já que o tempo inteiro o que o mundo-cobra é isso. Não ele que era ao menos naquele ano flor.
Ainda que não fosse de ser colhida ou carnificada nos dentes de outra pessoa, o pequeno, se fugia como conseguia. E conseguiu afinal. Afinal, consiguira sempre o que quis. Não é pra ser sempre assim?
Ser flor era um deleite entre os mistérios de 2008. Posto à mesa das lembranças, os fragmentos se encaixaram na sua menteninha e ele ia lá e embrulhava de novo, só para não ter que ver. Ver a realidade das coisas era por demais matéria para o seu umbigo fantasmacêntrico.
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