Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Outono cinco

A vida era persistente em 2008.
E o nosso pequeno achava que não conseguiria sobreviver ao último tiro que dera. Quando a vida lhe mostrou o caminho e lhe encaminhou aos escombros luminosos daquele dia de julho nem outono era mais.

Deve ter sido uma sorte poder passar o inverno com sóis nunca vistos até então. Talvez o futuro, sim o futuro lhe preparasse qualquer outra oportunidade. É que ele sabia, que dividido em três: nos três amores que lhe cabiam, só um deles sobreviveria.

Antes disso, porém era necessário narrar a sua trajetória ainda no rigoroso outono do ano anterior. Naquele tempo, como sabemos, ele se dedicou por quatro meses ininterruptos a sua maldita arte e ao desafio maior de sua pequena existência.

Loucura ou não ele rejeitou a cristo na infância, se lembrava ao tocar a cicatriz na testa que tantas vezes ele se fez de carícias. Não é difícil imaginar tal cena, nem é difícil de imaginar que alugém assim possa te sido obra de ficção.

Em suas idéias, do máximo que consigo enxergá-las, porque sei apenas dos fatos, o nosso amigo não tinha partido. O bem e o mal, é o que quero dizer, não fazia parte de seu caráter, pouco lhe importava, porque antes nunca fora cristão. E por que logo cometera o seu maior desrespeito a cristo, infante, mas nada tão inocente, é que lhe fora prometida a vida eterna.

Um cigarro atrás do outro, um silêncio atrás do outro, um sigilo atrás do outro, nada disso o levara a loucura. Nenhuma dor física lhe faria parar o sossego maior que talvez lhe fosse: morrer enfim, e como que banido de si, pois que de si não desgrudava!

Certamente enlouquecia, o que ninguém lhe via, o que nunca mostrara a não ser à dedicada mãe e irmão mais novo que lhe conheceram as dores da autotortura insana. A obsessão pela arte que ele negava e negava e negava em quantos sorrisos pudesse dar a sociedade ou ao vizinho, não era dada suficientemente para acabar com seu destino.

Talvez fosse um desagrado como tantos outros revelar seu propósito. Ele só queria paz.
Mas isso causaria lágrimas aos leitores assíduos e os deixaria confusos quanto a permissão de julgarem o seu instinto.

Nenhum de seus admiradores, nem um de seus infelizes, nem os loucos ou suas cartas ou a memória de quaisquer amores e carícias, nada disso lhe inflava o ego: porque nenhum deles naqueles meses de 2007 foram lembrados.

Foi o dia de sua glória maior sair daquele quarto cheio de escritos, muitas vezes contos irrevisados, romances deixados pra trás, novelas que só cabiam numa frase sem continuidade: iam pro lixo. Cartas não entregues, rabiscadas, censuradas, modificadas conforme a estética ou deixadas guardadas conforme o riso (porque muitas, creiam, eram ridículas).

E rir de si mesmo era algo magnífico que só o pequeno podia consigo.

Se no passado um dia houvesse sido julgado a criatura perversa e maquiavélica dos doces tempos dos vinte anos, ele teria dito: sim.
Se no passado também, quase recente, alguém lhe dissesse, quão bondoso era, quão fraterno se estendia, ele teria dito: sim.

Tremia as mãos que Persone intocava. Mas não sacudia-lhe insônia nem arrebatamentos que os remédios, tão humanos e perfeitos, lhe tratavam. E ainda assim, pilhas e pilhas de lexotans e outros que se diriam venenos, ele abusara. Sobrevivia a cada noite entre pesadelos e exatamente às nove horas da manhã, como pretendera seu corpo estava lá ao seu próprio trabalho.

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