Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

Páginas lidas

sábado, 23 de maio de 2009

Orquidea02

Vamos voltar à razão. É verdade, não se tem direção a alma cansada e mesmo de corpo intacto e intocável, fantasma não era.

Então quem era? Se arranjasse um meio de não-ser, era na escrita. O nosso pequenino soube bem como produzir obras em estradas de páginas e páginas até o esgotamento. Nem um paradigma que lhe dissesse mesmo a verdade do que era o amor, senão o amor-próprio encontrado na escrita: um personagem de si, sombrio e obscuro logo seria uma boa jornada. Aventura que se daria ao deleite.

No entanto, o projeto só existiria por conta de um pequeno detalhe: obviamente ele precisava de mais uma vítima. Que satisfizesse seus mistérios escritos, nada carnais, mas assim, que viesse feito luva como já fora dado tantas vezes por feitiço divino.

Sempre era o destino. Ou o destino dos infelizes que o cruzavam? Logo partia da Zimba com um inverno ao seu lado, depois de tentado seu último suicídio físico.

Ah, que o equilibravam, os astros por certo nunca. Nem a legião ou obsessores que fossem. Era vida. História mesmo. Nada lhe era louco, porque realizava todas as tarefas normais.

Voltemos novamente à razão, e o resgatemos do passado. Que impossível passado é esse que ele manipulava sem alegria alguma. O seu suicidio fracassado lhe deu provas garantidas que nem um corpo sem comer por cinco dias sobreviveria aos atos mentais sem reação alguma, ou seja: vivo. Bem vivo, trazia o corpo à tona o nome de seu feio e de tantos outros moribundos.

Era auge do inverno. Sabia bem que seu corpo não poderia lutar contra todos aqueles ventos e janelas abertas e boletas que engolia antes e depois de comer e dormir, esperando a morte, e a morte passageira, apenas de passagem lhe dava que sinais de morais ou existência? Acaso assim provocaria o organismo alguma castástrofe tão profunda que lhe evocaria ao espírito por conta de seus paradigmas inevitáveis evocar o Amor!? Sim, cinco dias sem comer não foram suficientes para que morressse tão querido e em paz.

E o tal do inocente, onde estava? Em sua cabeça é que não. Apenas a mãe dizia ao pobre rapaz: o menino está doente, é melhor não vê-lo. Mas doente que fica em pé? Por que o via pela janela? Por que o via zumbindo ou quase escrevendo e de pé morria? Pensava o pobre inocente.

Era lamentável ao pequeno que alguém lhe amasse. Mas era improvável que ser humano não amasse outro. Definitivamente era apenas mais uma prova de que seu espírito estava mesmo ainda encarnado e provocava desejos bastantes dignos de aflição. Não em si mesmo, mas no outro que embora tivesse acesso aos poucos minutos juntos ao pequeno, pouco soube de que o nome de seu coração era um segredo profundo: nada era lhe tão frágil o quanto parecia ser.

As suas viagens voltaram mais constantes à ilha, ponto que fazia para criar. Boa-noite cinderela, portanto deveria ser concluída ali. mas numa imensa pressa de se findar. Onde morreria, por fim? Ou como? Bem lembrava-se dos mendigos que nada matavam no Rio de Janeiro, bactérias e vírus e sujeira, nada os matavam. O corpo humano era mais que isso. E, na mente do nosso probre coitado, era insuportável saber que seu corpo era mais forte que sua alma. Tão alma, pequeno de corpo.

Chegaria o momento de parar de chorar de ônibus em ônibus sem que ninguém visse? Chegaria o grande momento de se deparar com a pura inércia criativa que lhe rompesse logo o espírito escrevesse tudo atropelado e pelos avessos sem sentido ou nexo como era a sua coitada alma sem amor? Ou era de amor de mais que vivia ensolarando olhos que não lhe pertenciam?

Sim, ele chorava, engasgando nas suas viagens quando o tremor do veículo rompia, e era assim imperceptível porque sua cabeça acompanhava o ritmo da estrada. Quem lhe via? A natureza ali distraída de si. E pisava o pé em cada terra para fingir que não existia.

Devidamente não maculou o coração do inocente com nenhuma palavra ou termo, nem um sinal. Apenas o viu chorar também, quando definiu que não voltaria mais à Zimba e que nunca se vissem jamais por entre os olhos, afinal o inocente era apenas mais uma pessoa boa que por algum motivo se atraiu por sua demente sina: amar a si.

A mãe, finalmente entendeu que houvesse criatividade naquele filho, e nunca mais ousou nem sequer relutar contra um amor tão voraz, capaz de mantê-lo vivo. Não era ódio quando ele chegou sorrindo ao final de suas páginas, cento e oitenta páginas de pura ficção terminava um ciclo de sua vida. Começou a contar-se não por anos de aniversário, mas por estes cálculos históricos. Talvez, só talvez, entre uma idéia e outra, não necessariamente entre uma página e outra, é que pudesse romper com seu destino, e morrer por fim da tormenta.

Amar ao feio era-lhe indigno, mas foi a única coisa que lhe restou. Porque não amava a si mesmo, então?

Diante de todos os grandes paradigmas ele cometera os pecados e nada lhe acontecia. Tinha noção apenas de que era humano.

E, sem querer entreter o leitor de imagens chatas, apenas digo que perdera a noção do que produzia: se era bom ou não, nem merecia autocrítica.

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