Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Julho 8

Se eu repetir os fatos, perdoem-me caros leitores (como se diziam os antigos).
É que a memória funciona desta forma e a gente toda sabe disso que não há nada mais tolo que crer na cronologia quando ela se estende de uma ponta a outra e invade lembranças conectando outras remetendo ao mergulho por vezes infernal ou saudoso (que é anjo de delícias).

Ao menos juro e prometo que o pequeno não se remoía. apenas como homem são buscava de trás para frente ou vice-versa solução para o resto de sua vida. ou o melhor: o resto havia passado. para a sua quarta vida! aquela futura e predestinada! aquela que ele vira por entre as frestas da cortina de seu carnaval.

o futuro reage de maneira violenta e embora todos saibamos que existam ciclos, o pequeno gostava de admirá-lo por não prevê-lo e ser pego desprevenido ainda era uma das suas coisas mais divertidas. enquanto lavava o rosto de tanto calor no tanque sentiu que a roupa lavada agora não estava seca e não querendo pensar em quase nada mas alguma coisa grave e gostosa aos ouvidos e à mão (pois vira num filme um eletrochoque fascinante) é que colocou as mãos na máquina e a pôs de novo a centrifugar. ali ficou balançando, balançando e sentindo a força da máquina devagar e rapidamente e quanto mais rapido mais fortemente como se fosse o curador de um espírito enfermo, ele, o pequeno a desatar seus demonhos.

era com prazer que se apoderava de simples objetos.

voltemos a 95. o louco lhe visitava sempre e era o primo que o trazia de carro. o primo nunca subira em seu apartamento de loucuras... imaginava. o pequeno embora quisesse falar do feio o guardava em segredo e em segredo tratava o louco com toda a doçura do mundo porque era humano ser assim e mais, claro, porque lhe corria nos genes o genes do feio.

Quão bonito pode ser um gesto e quão desastroso também. Hoje em dia o pequeno não se culpa, mas sabe que semioticamente sabe hoje em dia que foram estes gestos caridosos e simples e essa alegria, um de seus jogos, era olhar naquela face muito diferente do feio e tentar lhe reconhecer traços. como sempre fizera com seus próprios irmãos para ver a similitude do físico quando brigavam por carácteres muito distantes de suas personalidades muito diferentes na adolescência. desta forma é que fazia com o louco. talvez se não o visse assim seus gestos seriam apenas de bom amigo. mesmo.

foi quando já no final daquele ano o louco desaparecera. ou era julho também? não me lembro.
nunca mais voltara e o pequeno apenas acreditava que era assim mesmo. arranjara uma namorada, entrara para a faculdade ou conseguira um emprego. era um tempo sem tantas virtualidade de se comunicar facilmente e nem celulares. porque era coisa de rico.

foi neste tempo também que o pequeno obteve a dádiva de ser tomado por assombrosos casos de premonição. se é aqui que começa a ficção ou se começou desde o início é importante lhes dizer cuidado, porque amores são vários como várias são as pessoas. apenas não o julguem demais ou machuquem tanto a sua alma ferida de fantasmas.

sonhava com o feio. sintoma básico e natural. os sonhos no entanto lhe diziam de amor. o feio em seus sonhos o elevava a um espaço infinito e cheio de cores. depois descobrira que eram lads aquele tipo de cores. e em vez de acordar com a felicidade própria daqueles que não tendo o ser amado em vida tinha-o em sonho ao menos lhe guiando a toda felicidade eterna, é que acordava com ódio e raiva. Por que tinha que ser assim? Ainda mais nos dias em que estava em paz? Ainda mais nos tempos em que tentava esquecer dessa coisa sentida e cheia de sentimentos? Por que tinha que ser assim?

Nunca quisera ser fraco como seu pai fora. Nunca quisera ser também tão frio como a mãe lhe ensiara. Amor, verdadeiro?! Só de mãe, meu filho. O resto não existe.

E nem sequer pedira provas nem para os espíritos nem pros umbralinos. nem pra ningúem. dormia. então, em sonhos era capaz de se deixar invadir por tais imagens sim alucinógenas. talvez naquele tempo se tivesse previsto que alguns remédios lhe cortariam o horror daqueles sonhos que se acorda com sensação de pesadelo... mas não, naquela época bem inocente era contrário, por mais incrível que lhes pareça, a qualquer tipo de drogas ou remédios ou drogas verdadeiras.

(em 2009 foi que descobriu que a palavra droga também fora usada para definir uma espécie de tecido fino e caro há muito tempo.)

foi daí que lhe veio a idéia de ter insônia. por que não? por que não? já que de dia não sonhava capotava pelas noites mal dormidas. esperteza tamanha não havia naqueles olhos cheio de lógicas. mas esperem que outras burlas tentara e todas fracassaram.

tortuoso o caminho dos que não acreditam. mas que fosse, já nascera canhoto. e seu primeiro desenho afinal não fora o portal do inferno ensinado pelo colega ao lado cheio de pêlos no braço e magricelo do segundo ano primário?

é óbvio que ele sabia daquele tipo de contaminação feita por aproximação de espíritos. mas não. o feio não podia jamais ter aparecido naquele período da sua vida em que também estava claro para si para todos: sou o gay perfeito de várias gerações destruídas. falaremos de sua árvore genealógica mais adiante. por enquanto, esperem: o segundo sintoma estava por vir.

Veio como uma rajada quente e sóbria. Agora ele sabia de antemão quando viria o feio pelas ruas ou pelas esquinas e quando mesmo andando no centro da cidade à sua procura não o veria. Era um sintoma cruel porque a partir daí devia estar tão bem sintonizado que por muitas vezes correra as ruas da cidade à saber por empírico próprio se aquilo de fato existia. Mas sempre dava certo. E dando certo sempre e não sendo cientista, no seu sempre mundano, portanto, acreditou ter de fato sido possuído. Mas pior ainda, foi ter acreditado que o outro, o feio, talvez sentisse dos mesmos ataques.

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