Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Réquiem X.XXX

Se nós o vimos um dia aniquilando o diabo e outras imagens. Se o víssemos um dia sob sangue de ter amado a cristo, era criança o pequeno quando o idolatrou carnal.

Se tudo isso o vimos fazer e o lemos desde já como um monstrinho andante por aí, não era de se esperar um bom final para o nosso pequeno. Naquele quarto dia anterior ao final do ano, ele se acometera de mais alguns crimes surdos: fez uma lista de todos os infelizes, tantos quanto possíveis, e por um carinho apenas deslizou os olhos a medida que contemplava sua próxima ação.

Em seu quarto, foi e veio, várias vezes, e por cada um, masturbou um pouco, alguns gozara alguns não. Por cada um ejaculou um pouco de si. Num ritual que durou e lhe durou um custo de suores também. Não chorava, porque sabia se despedir assim e daquele jeito todo seu se despir de idéias insonsas e insones e pequenos detalhes que lhe foram vagos durante a vida amorosa.

Os retratos de memória, e os relances de olhares promíscuos embora todos disfarçados de carinho. Ah, o nosso pequeno sabia assassinar pensamentos e criaturas que lhe custaram tempo. Não que fosse por crueldade, mas o tempo mental de suas idéias insanas: a elas preferia doar o tempo. O tempo é algo que se compra com uma batalha íntima, pensava enquanto ejaculava.

Claro que pela própria organicidade do corpo ele juntou em um ou outra punheta uns dois ou três infelizes e, como toda boa prática de fantasia sexual: estava em braços da luxúria. Luxúria esta que só se acometia a pensamentos. Fantasias foram feitas para se fantasiar, tinha claro o pequeno.

Tinha claro esse domínio de não precisar ir até lá, a matéria era algo muito distante de si. Ou assim se achava, ou assim, várias vezes se encontrara mais feliz. Ria, e gargalhou algumas vezes: fora um dia intenso. Naqueles últimos dias de 2008 fazia sol ou chuva? Não, naquele dia, tinha um lençol todo encharcado de porra: era o sangue desses tristes passantes que um dia ou mais que um, alguns meses até, lhe dedicaram profunda consideração.

Logo perceberemos que esses andantes, feitos de testes e coitos e diabruras da vida, nada tinha a ver com nosso personagem. Resumia-se ao rol dos infelizes: os pecadores de si.

- Com que me ousas te trair?

Era algo heróico que o pequeno tentava lhes dizer: não vês que a ilusão está posta! E por todos os lados. De onde vens esses fantasmas todos de memória, algumas embaçadas ou tresloucadas demais. Muitas vezes, na fantasia se faz uma espécie de rito: um que lhe agradava mais logo, feito holograma, se transformara em outro. E o dia inteiro foi assim, sem nenhuma baga relaxante. O pequeno tinha coragem o pequeno. Tinha até o pinto duro e as mãos moles, porque era fragilzinho de seu fôlego fumante.

Mas era o dia de matar de uma vez os resquícios sem validade do acúmulo, do que se poderia dizer, burocrático de seu coração.

Réquiem ao ex. Ao quase ex. Ao ex-amor. Às ex-possibilidades. Aos possíveis que não lhe tocaram. Aos passivos que lhe dispensaram tempo. Aos pacientes que trocaram seus olhos com o pequeno e até tentaram, em vão, lhe tocar um pouco a pele. Que pele distante é essa, pequeno, que se conforma em si e luta consigo mesmo para ter-se a si mesmo: potestade.

Deus está em mim, e eu estou em deus. E deus eu matei para ser pequeno.

Dormiu às 24horas: 00:00. Exatamente: e felizmente não se lembrara mais do dia tão exausto de assassinar lembranças desnecessárias. Afinal, em uma hora o lençol estaria seco e ele dormiria ainda com cheiro que vinha de si.


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