Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

Páginas lidas

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Outono nove

Acordara.
A partir de então, dormira todas as noites esperando por sua visita. Dois meses se passaram. E ele chegou:
"Estás de férias no mesmo apartamento, já não estavas aqui, já não estavas lá, por onde andavas? Dois anos se passarão, dois lognos meses se concluíram, mas do seu tempo eu não participo. Que terrível sofrimento. Ele ouvia se aproximando dos corredores, subindo as escadas vagarosamente, chegando ao seu encontro. Dlim-dlon. Tudo parecia tão real. É preciso dar as caras à realidade nos sonhos para que eles pareçam de fato verdade. Dlim-dlon. O medo lhe subiu. A visita esperada, a visita tão esperada. Lhe subia. Esquentou seu rostinho, esquentou, não foi! Esquento. E ele não teve coragem de abrir a porta. Foi até ela e não abriu."

A recusa, veio em seguida, se naquele tempo tinha seus 17 não fora aos dezoito que por aí encontrara o amor? E não tivera tantas vezes que revoltar Brasília em sua alma e até lá pedir perdão?

Vejamos, e sorriam dessa vez, não era nada de político. O nosso pequeno não atendera a porta de medo. E medo ele dissse pra si mesmo: nunca, nunca mais eu sentirei.

Mas sentiu. Coisa que narraremos num próximo capítulo. O importante agora era não perder o foco da madrugada. A insônia começou a surgir.

Na ilha, perseguiu o demônio o quanto pude, mas as bruxas, elas só o seduziam. E com elas lhe impregnava de feitiços e os feitiços, meus caros, meu pequeno, ninguém pode salvá-los daquilo que és!

2007: novamente. Paramos quando nosso menino rezava implorando por respostas que não viesse dele mesmo.

"Era como se fosse real, acordava na mesma cama. O remédio não funcionara? Ao invés do quadro então deparou-se com aqueles olhos tão conhecidos, no próprio sonho lembrara-se do último sonho com o demônio quando ele lhe passava os olhos bem vermelhos e pele tão plástica que chegava a brilhar no meio de uma multidão que não o via, o diabo quis dizer o quê? Que estava satisfeito? Não fora depois deste sonho que sumira ao Rio, pequeno? Mas fora de medo. De quê? De uma nova vida. De uma vida indestinável? Foda-se. Voltou ao próprio sonho com força deplorável. Tu me olhas e eu te quero. Eu não tenho consolo eu rezei pra estar aqui e quem me dá respostas: és tu, demônio!? Ria. Ri. Onde é que esteve no meu tormento? Mas pequeno, cuidado com a língua do espírito, deixa ao menos eu te tocar um pouco, a pele que tu tanto escondes de mim. Criaste um corpo de gente e minha ficava pra trás, era o que seus olhos diziam. E o pequeno deixou ele se aproximar mais e perguntou sinceramente com os braços estendidos, perguntou chorando. Era o único que lhe daria a garantia de uma resposta externa, que fosse: Como? Como esperarei pelos restos dos dias se viverei tanto assim? Das mãos do demônio triste flutuou certo objeto que o pequeno deixou vir. Não soube discernir, parecia mais um remédio. E disse sim. Mas ao tocá-lo logo viu, que a ironia era mais forte que o tempo e que o poderes satânicos que haviam lhe protegido por certo amor. Olhou para frente rapiamente segundos que teve para ver até o Dito fugia, lhe fugia! Te fugia, era? Fugia? Mas não de costas, ao menos honrou sumir pelo mesmo quadro ainda que com tristes olhos de lamentação. No sonho ainda o pequeno horrorizado com a primeira caneta que ousara escrever um dia e ter dito: sou isso. Na mão esquerda, aquela... do coração."

E foi exatamente assim que acordara. A mão estendida ainda e larga de fúria. Alguém tem idéia do que um sonho deste é capaz de fazer com uma criatura viva assim? A grande faca de cozinha ainda estava ao seu lado, numa mesa onde ficava seu pequeno computador, o quadro do demônio que ele tanto idolatrava, logo logo na sua frente e aquela freira. Coitada, me desculpa a amargura das palavras, meu amigo, mas sim, você enlouqueceu.

Com a calma adquirida sem muito esforço, com o tempo de espera que tinha. Olhou para o relógio com a faca já nas mãos, não passara uma hora que tinha se induzido ao sono com aquele gostinho azul. Não. Nem havia espelhos no seu quarto. Era de tarde. E nem o capeta tinha a coragem de chegar tão próximo? Fizeste bem, pensara, nos teus olhos tristes. Mas a ti, eu ofereço o meu rancor. Colocara novamente o diabo de frente e olhara em seus olhos e metera-lhe a faca e abaixara de cabeça novamente e deixara assim, por um dia inteiro a alma dependurada.

Fora até a sala e decidira à mãe que naquele dia não trabalhava. Que estranho sorriso era aquele, meu filho? Não era estranho, mãe, antes de dominar a escrita, eu enfrento o diabo. Também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário