Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Outono seis

Mas com que números e inúmeros ele completaria os termos daquela missão maldita!? Não lhe era permitido nem saber o que se restaria de um ser tão medíocre e ordinário que avançara pela vida apenas por sua capacidade biológica de adaptação.

Odiava o sussurro vindo do inverno que anunciava a precpitação. Odiava as palavras da mãe que não lhe causava tranquilidade, embora ela permanecesse fiel ao seu sentimento materno e uma vez escolhido o filho de volta: não lhe negasse a mão. Mas o corpo inteiro também que não conseguia entrar em seu quarto, porque a loucura ali impregnada lhe causava sufoco. Sufoco que o pequeno causava com sua alma obesa.

Idéias, idéias sem fim! E nenhum amor naquela alma vadia? Nem dinheiro. Nem miséria, mesma! Nada que pusesse fim ao seu tormento. A intensidade de seus horários que tanto respeitava era tão viril e máscula: que o próprio pequeno se assustava de si. De onde que vem isso? Se perguntava, mas não parava, não parava um segundo. E durante toda aquele período não saberemos, talvez sim um dia, o quanto foi produtivo ou não em termos de arte.

Pouco lhe importava, conquanto mantivesse o mínimo contato com qualquer homem ou desagrado. O seu rico lhe deixara à sua vontade. E aquele feio? Nem se lembrara que existia um dia. Os outros ele vira junto com o ranzinza partir no ônibus que cruzaria o sul até sua volta à Santo, São Paulo.

Os verdadeiros amigos lhe dedicavam consideração, mas honraram a sua decisão doentia.

Na metade do caminho, ainda faltavam mais de mil páginas a serem confiscadas ou alteradas ou continuadas ou perpetuadas ou deletadas ou rasgadas ou... Como era triste ser OU e seu instinto o guiava a ser E. Por que não sabia. Sabia fazer o que lhe agradava, mas naquele dia de sol de outono, quase raro naquele ano, quando se deu conta de que vivia: mama, eu vivo ainda!?

- Você teve tudo o que você queria, não foi?

- Até agora sim.

- E por que esta felicidade toda?

Ele estava irradiante.

- Porque eu burlei o amor, mãe. Porque eu realmente não me lembro de ter amado. Eu consegui. E por isso eu posso tudo agora.

A mãe não entendeu, que o poder tudo era o de fazer o que quer que fosse com qualquer sentimento. Jogar pra lá e pra cá. Memórias não lhe atingiam, nada disso, ele reconfigurava ao sabor de testes e provas que se autofazia. E ria ria. Gargalhava.

- Eu encontrei o meu segredo, mãe, o segredo que todos gostariam. O segredo que a minha Julieta quis, você leu mamãe, a minha Julieta?

A mãe fez que sim.

- Ela não morre, ela não vive até o final. As luzes se acabam quando se faz o fim. A peça acaba com ela e o punhal. O Romeu morto, mama, o Romeu morto!

E sua gargalhada era tão grande e intensa e imensamente viva que o irmão correu para vê-lo, talvez seu probre pobre irmãozinho estivesse curado! Até a mãe sentiu sorrir essa esperança. E o pequeno continuou:

- Vocês sabem o que acontecem depois que as luzes se acabam?

O irmão quis corrigi-lo. Não era melhor dizer que se apagam: Não! Não! Prestem atenção, ele dizia, com as mãos no alto, agora eu sei!

Pausa.

Foi até a sua janela da sala e sorriu pro mar.

- Eu odeio o mar, vocês sabem disso, eu odeio o inverno e ele está chegando. Eu odeio tudo isso. Mas eu espero.

E quando ele parecia ter voltado a si, ele se voltou ao quarto com uma nobreza incrível.

- Eu vou esperar pelo final.

Dois dias depois, no entanto, ele se ajoelhara a rezar. Não vi a quem. Ouvi apenas.

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