Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Julho 13

- Você se acha...

E o pequeno escutou sem responder. Daí é que as almas que se consideram espertas ou fortes demais são pegas pelo gesto humano, talvez daí, é que por esses gestos ele, pela primeira vez, ousou acreditar que houvesse mesmo humildade e bondade naquele mundo. Assim, como as palavras cristãs ditam!

- E você está certo.

O pequeno voltou de novo os olhos para a cidade. Deu vontade de chorar. Deu vontade de se deixar abraçar por um estranho que há poucos dias era o novo amor de sua vida. Deu vontade de agradecer mesmo os céus e até pensou em deus, mas recusou-se, ainda, a agradecê-lo. Primeiro agradeceria a si mesmo por ter enfrentado no mesmo dia o seu destino e não deixado se arrastar pelas tormentas de um espírito canhoto que era o seu, e o podia levar, há mais inúmeras insônias para depois engoli-lás todas em papel escrito.

Ele sentiu o rico se aproximando. O rico era mais velho, era gentil, ou sabia ser. O rico, estava surpreso que houvesse um pequeno tão arisco e claro, tão doentio e risível, que seria alguém para fazer um sexo alucinógino, porque era isso que inspirava: inspirava a loucura e uma ternura que ele deveria descobrir com o tempo. Sei que a cena eu vi e o rico disse sem se aproximar muito que havia um motel ali perto de onde das janelas ainda dava pra ver a cidade. E a cidade de noite era igualmente linda. Normalmente esta cidade tem muitas noites de céu estrelado. Coisa rara por aí.

O pequeno dái é que usou de um cinismo, pegou em seu dorso, mas não em seus braços. A bem dizer apenas passou a mão pelo dorso do homem e foi ao carro dizendo que agora eles estavam falando a mesma língua.

De onde eu estava, pude ver, que o rico balançava a cabeça como quem diz: uau ou que porra é essa!

Vamos dizer que numa cidade de burocratas e políticos os homens não podem ser taxados de enrustidos, a burocracia imprime seus valores nas roupas e nos trejeitos tanto quanto a política exigiria de um homem a sua coluna reta e os gestos muito bem eleitos.

Se com seu porte másculo não poderiam perceber sua sexualidade, certamente o pequeno não tinha suas dúvidas, sobretudo naquela troca de olhares primeira. Mas o pequeno, como eu já havia dito, nunca teve essa preocupação em, antes de tudo, saber exatamente das sexualidades do sujeito. Lhe interessava o desejo e o desejo vindo daquilo que está na categoria de sentimentos, embora se extravasse pelos prazeres, não se comunica por máscaras. Por isso também a coragem do pequeno em atirar-se assim feito metralhadora com falas que já sabem de tudo, inclusive o óbvio.

- Você é diferente dos outros gays.

- Você também é!

- Eu fico imaginando que tipo de coisas você não apronta no sul.

- Coisas do espírito.

Daí sim que o pequeno pegou na mão do rico e sentiu imensa felicidade de que estava acontecendo. Estava! Num dia magnífico que nem com amnésia lhe tiraria a lembrança.

E o primeiro segredo estava posto quando ao chegarem no motel o rico lhe disse que nunca ninguém deveria saber daquilo. Agora era que batia o nervosismo? O incalculável nervoso humano agora é que se dava conta de onde estavam. Mas o pequeno foi logo tirando a roupa e ficou nu dizendo que jamais jamais jamais nunca ninguém saberia disso.

Se estavam excitados ou não. O rico ficou com suas roupas bem passadas no corpo e admirava a espontaneidade com que o pequeno ria e abria os braços. Nem nem outro quis ser piegas ou falar de amor, principalmente o pequeno, mas estava livre, era assim que se sentia. Era como uma nova reencarnação num novo mundo em outra história que algum psicógrafo resolveu lhe colocar!

O rico também ria.

- Você não precisa tirar sua roupa. Mas vem ver a cidade assim comigo. E o rico abraçou o pequeno e depois disse: isso é loucura, sabia?

- Mas é divertido! Vai dizer que não? Não era o que você queria?

De fato, o rico não tinha programado isso ou imaginado que aquela criatura doce e frágil fosse capaz de surtos tão alterados de alegria e nudez. E ainda nem tinham se beijado.

Talvez o rico começasse a recear que espécie de atração foi aquela que o levava até ali. Talvez o rico começasse a desconfiar que o pequeno jogando de formas desconhecidas lhe arrancaria o resto de juventude e muito provavelmente seria além de um anjo um lugar de infernos.

- Você não tem medo de mim, mesmo? Não tem medo, eu sou um estranho? Ou você é acostumado a ser assim com todo estranho que aparece?

- Para cada roupa que você tirar eu te respondo uma pergunta. Mas pense no meu segredo: esta noite não faremos sexo.

Nenhum homem é desafiado por nenhum homem sem cometer a imprecaução de aceitar o duelo. E cada pergunta respondida o pequeno tirava uma peça sua. Começou pelos pés, porque assim tinha visto num filme e achara bonito. E o homem não tinha mais perguntas quando chegou à calça, depois do cinto e da camisa, é claro. Se o pequeno pudesse arrancava até o perfume caro para que não ficasse no seu olfato a lembrança de um corpo mágico (caso um dia tivesse que esquecê-lo).

- Se a gente não vai fazer sexo... eu não sou uma pessoa romântica também! Eu não tenho essas coisas...

- Nem eu tenho. Então, somos bem iguais e até agora nem um beijo.

- Você me dá medo.

- Não era eu que deveria ter? De ti?

- Teu irmão não vai sentir sua falta.

- Vai.

- E não é melhor a gente voltar?

- Se você quiser muito a gente volta, mas tu colocas as tuas roupas. Eu coloco as minhas.

O pequeno se viu em espinhos novamente, e seu orgulho, pai de seus pensamentos, logo lhe fez agir pelo impulso de começar a se vestir. No entanto, é que foi agarrado e pego pela cintura magra num beijo que logo escureceu a cidade e de onde as estrelas, elas não surgiram, porque de olhos fechados, não as vemos.

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