Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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sábado, 18 de julho de 2009

Póstumo

Não tinha palavras para projetar o futuro: estava ali à porta. Sairia com os amigos no último dia do ano de seus mistérios, e quem sabe, logo viria a se tornar um desses megalomaniacos existenciais. Viver como um velho ou como auto-artesão: novíssimo.

À custa de doença cancerosa poder imacular-se novíssimo. Sem temor algum da morte ou pior da morte que é dos amores. De repente se encontrar como se nunca tivesse amado ninguém com o olhar sóbrio e doce que num só momento aliviasse certas angústias alheias, mas nunca as suas. Era o encanto que transmitia?

Seria bom se apenas pudesse ouvir as melhores músicas daquele ano e não se lembrar dos fatos que lhe regrediram. Sem amor poderia ainda reescrever seu último capítulo por muitos anos e muitas vezes diferentemente ao voltar naquele último dia.

Por que sempre sobra um fantasma, em seu celular e nas suas moléculas também a mensagem do rico que lhe dizia que nunca iria descansar do pequeno. Naquele dia ainda pudera dizer, de passagem e por muito tempo, que conhecia o amor. Poder dizer que amara já não era fantástico?

Ele ouvia coisas da imaginação e sorria: o vento transbordava ainda algo de glória. Voltar a fingir seria um bom exercício pra se dar continuidade à vida. Se rezou foi por que deus criara o tempo e todas as coisas que irão morrer com o tempo.

Vez ou outra sairia ferido, e furaria novo piercing, até novos olhos furaria e se acometesse de ser mais um na vida ainda causaria perturbação em novas rotinas. Como acontece tranquilamente entre a gente.

Vez ou outra seria apenas minúsculo e cresceria como argila em mãos de quem o possuísse.

Era bom que dominasse o passado e sua prepotente força, a ilusão era mesmo mais fascinante. Não se deve confiar na memória, dizia. Era horrível de ver aquele riso de lado.

Ele abandonou a todos estando sempre ali.

Era isso que escorria de sua echarpe ao vento, tentando ficar bonito com uma roupa de inverno. Tentando ficar bonito ao fazer novas amizades e até pretender nas antigas algum carinho cumplície.

Ninguém era diferente que tu, pequeno, porque todos fingiram e todos viveram os seus destinos a sós, as suas dores de dentes a sós, a suas lacunas a sós e os bons devaneios. Se ressuscitasse alguma de suas vítimas, se ressuscitasse algum de seus amores em sua imaginação: brincaria, sorrira, porque podia de ingênua vida a frente.

Aprendera com seus gatos. Mas, se um dia tivesse que dobrar a espinha dorsal para alguém, era capaz de se decidir pelo não.

A partir de 2008 tudo era possível. Pessoas que vivem em apartamentos nunca estão com os pés totalmente à terra, pensou levantado na sacada em que fumou um cigarro inteiro. Era moço, tinha a barba mal feita e um coração nobremente vazio: vencera o destino.

Mas quem o visse assim tão gargalhante, pequeno, poderia mesmo imaginar que andara pensando em coisas de amor?

- Talvez.

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