À custa de doença cancerosa poder imacular-se novíssimo. Sem temor algum da morte ou pior da morte que é dos amores. De repente se encontrar como se nunca tivesse amado ninguém com o olhar sóbrio e doce que num só momento aliviasse certas angústias alheias, mas nunca as suas. Era o encanto que transmitia?
Seria bom se apenas pudesse ouvir as melhores músicas daquele ano e não se lembrar dos fatos que lhe regrediram. Sem amor poderia ainda reescrever seu último capítulo por muitos anos e muitas vezes diferentemente ao voltar naquele último dia.
Por que sempre sobra um fantasma, em seu celular e nas suas moléculas também a mensagem do rico que lhe dizia que nunca iria descansar do pequeno. Naquele dia ainda pudera dizer, de passagem e por muito tempo, que conhecia o amor. Poder dizer que amara já não era fantástico?
Ele ouvia coisas da imaginação e sorria: o vento transbordava ainda algo de glória. Voltar a fingir seria um bom exercício pra se dar continuidade à vida. Se rezou foi por que deus criara o tempo e todas as coisas que irão morrer com o tempo.
Vez ou outra sairia ferido, e furaria novo piercing, até novos olhos furaria e se acometesse de ser mais um na vida ainda causaria perturbação em novas rotinas. Como acontece tranquilamente entre a gente.
Vez ou outra seria apenas minúsculo e cresceria como argila em mãos de quem o possuísse.
Era bom que dominasse o passado e sua prepotente força, a ilusão era mesmo mais fascinante. Não se deve confiar na memória, dizia. Era horrível de ver aquele riso de lado.
Ele abandonou a todos estando sempre ali.
Era isso que escorria de sua echarpe ao vento, tentando ficar bonito com uma roupa de inverno. Tentando ficar bonito ao fazer novas amizades e até pretender nas antigas algum carinho cumplície.
Ninguém era diferente que tu, pequeno, porque todos fingiram e todos viveram os seus destinos a sós, as suas dores de dentes a sós, a suas lacunas a sós e os bons devaneios. Se ressuscitasse alguma de suas vítimas, se ressuscitasse algum de seus amores em sua imaginação: brincaria, sorrira, porque podia de ingênua vida a frente.
Aprendera com seus gatos. Mas, se um dia tivesse que dobrar a espinha dorsal para alguém, era capaz de se decidir pelo não.
A partir de 2008 tudo era possível. Pessoas que vivem em apartamentos nunca estão com os pés totalmente à terra, pensou levantado na sacada em que fumou um cigarro inteiro. Era moço, tinha a barba mal feita e um coração nobremente vazio: vencera o destino.
Mas quem o visse assim tão gargalhante, pequeno, poderia mesmo imaginar que andara pensando em coisas de amor?
- Talvez.
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