Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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domingo, 21 de junho de 2009

Orquídea14

O rico se prevenira tão bem que se desfizera no ar como fumaça? Não, como ar que é invisível, que fumaça ainda se via pelas narinas do pequeno.

E o rico era a única prova de que a orquideazinha tivera existido.
Irônico, não? Sim, muita ironia. É pra pensar que uma história dessas só podia ser obra de ficção. Nenhum espírito de porco quereria reencarnar em tal destino.

O pequeno procurou pelo rico como nunca havia feito: estávamos em novembro de 2008. Tudo já havia sido dito. Tudo havia acontecido. Tudo: e o pequeno, derrotado, bem derrotado, no seu íntimo ainda queria falar. Queria decidir em conjunto. Finalmente em conjunto, pequeno. À dois.
Há. E há muita ferida também. Muita coisa. Muito erro. Muito. E o rico não era encontrado em lugar algum. O rico como ele mesmo propusera, ele, o pequeno propusera, que o rico desaparecesse, que o rico esperasse, que o rico adormecesse e só depois, depois que o pequeno tivesse concluído a sua vida no sul, então, sim, poderiam até ficar juntos! Não foi mais ou menos assim?

Sem celular, sem endereço, sem nada. Desespero. Agora era só fantasma. Meu pequeno, esquece a obsessão dos atos, vive como havia vivido.

- Mas é que eu ainda não tentei correr atrás, agora que sou humilde eu corro. Corro de verdade.

E não encontrava nada. Esperou que o seu amor ligasse, esperou por conta de lembranças de atitudes que seriam óbvias vinda de seu amor, e nada. Fotos nos jornais, nas revistas? Nada? Não, porque o pequeno não lia nem via noticiários.

- Não?
- Não. Jogava vídeogame.

Pela primeira vez em sua vida ridícula de classe média baixa, o pequeno considerara se aliar, ou seja, decidir juntos, com alguém, algo de sua vida. E dessa vez ele não cometera nenhum suicidio ou tentara. Desta vez ele não enfrentara nenhuma ideologia patológica da história humana e cultural. Desta vez ele não ficara nu num inverno pra ver no que dava.

Ele também tinha segredos pra contar. Nada que se comparasse as coisas feias deste mundo. Mas eram segredos também. Iria segredar sonhos e gentilezas que só havia guardado até então ao seu rico, ao seu amor único, ao seu. Eterno. Quantos sonhos começara a ter? Todos úmidos de uma umidade capaz de florir de verdade e até pensava em flores, rosas, muitas cores, e quem sabe reverter tudo e começar de novo em outro lugar não seria tão ruim assim. Seria?! Se para deixar de ser fantasma, no fundo, no fim, por última instância: era o rico quem lhe faltava à fórmula mágica.

Nem email. Nem orkut. Nem nada. E às vezes acreditou mesmo que ele daria conta de dar algum recado. Em doze anos e nada? Em doze anos e nada mais? Só por que o pequeno não quis do jeito dele no dia certo que ele queria que fosse do jeito que ele queria?!

Respira. Ainda nos faltará um capítulo. Inteiro.
Coçou a cabeça e se dedicou a esperar e, na espera, a pensar. Na vida.

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