Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Julho 11

Antes de falarmos do seu encontro, o que mudaria um pouco o seu destino, mas não o seu orgulho. Necessário é dizer que naquele carnaval de 2009. Portanto ainda hoje. Havia visto o futuro.

O rico, não aparecera.

E voltando do futuro - e existem duas espécies dele: aquela de que se imagina em fantasia e aquela de se sente e segue como verdade. - lá estava ele pensando que 2008 começava a se dispersar e as materialidades de 95 lhes eram muito similiares. Graças deu que o futuro existia.

1997. Naquele ano voltara a cidade natal sabendo e tendo confiança em si mesmo de que sua alma embora pudesse tentar lhe trair, como várias vezes fizera, aproveitando-se de sua consciência, não conseguiria mais. Estava forte porque era cavalo, pequeno, mas cavalo. Sem rédeas mas cavalo: ou serpente que troca as peles. Ou gato que morrera a primeira vida.

Novamente aqueles ares magníficos. Aqueles monumentos que o fazia sentir-se tão diminuto e ainda tão vibrante. A sua cidade natal, diferente das igrejas, é feita para celebrar o homem! Naquele tempo, um de seus irmãos havia se mudado para lá, por conta de um melhor emprego.
O irmão lhe apresentou alguns amigos. E alguns amigos, numa tarde distraída, passeando por entre as quadras arvoradas lhe apresentou outro amigo.

Acontece de verdade. Num cumprimento rápido, já que estavam com pressa. Viria novamente o outro amigo? O amigo do amigo do irmão: era perfeito. E mais que perfeito: pois nunca seu irmão desconfiaria. De que de relance dali, haveria uma relação muito delicada.

Então era isso não era! O destino depois coincide numa cidade que lhe dá alegria também encontrar um homem que lhe fosse amor!? Era isso, era! Era! Era isso! Existia também! Por que duvidar da realidade e dos sentimentos sentidos: o homem perfeito que lhe sorriu tão perfeitamente para quem foi apresentado como o irmão do amigo do amigo.

O que o fizeram parar justamente para comprimentar o pequeno. Sabemos, o irmão e o amigo do amigo, eram heteros mas possuídos de educação. O pequeno ia e caminhava tola biba caminhava enfeitando-se da cidade e de seu céu enorme! Naturalmente, pensaria-se, lá está o irmão do amigo do amigo a caminhar, aquele viado! a caminhar. Vamos cruzar as quadras, talvez nem me reconheça. Mas não, veio a lhe cumprimentar e a apresentar seu amigo.

Talvez fosse inevitável, já que se cruzaram de longe, e seja constrangedor e de muita indelicadeza fingir que não se viram. Para o pequeno, porém, seria muito natural se apenas se dessem um sinal cada um ao seu lado da rua! Afinal, mal se conheciam, ele e o amigo do amigo. Mas parou porque o outro era lindo.

Daí, é como se vê, que a dança traz ou repele conforme a natureza humana. Parado, talvez impusesse que viessem até si. E eles fizeram. Parado, talvez fosse interpretado como alguém que sai do céu e se sente só e por piedade, eles fizeram. Parado, talvez, apenas parado, ele indicasse uma certa bizarrice que necessitasse de cuidados, e eles fizeram. Parado, o importante era mesmo que eles se aproximaram.

No pequeno não havia intenção alguma, a não ser ficar parado e admirar quanto pudesse aquela beleza alheia. Numa cidade em que a maioria é feia ou tem sua beleza diferente. Ainda não parava para discutir a si mesma dessas questões antropológicas.

Ficou muito feliz. Entrou em casa feliz. O seu irmão feliz. E tudo ao redor feliz. Tinha agora alguém para pensar. Alguém para se iludir de verdade. Alguém que tivesse beleza e que pudesse até imaginar-se beijando a boca com clareza sincera e dizendo coisas nada tolas e mesmo assim piegas.

Qual foi a última vez que sentira dessa felicidade? Com essa estrutura lógica tão bem definida? Nunca!

E deu-se por vencido de que de algum jeito voltaria a vê-lo. Sabia que só estava de férias e de passagem. Mesmo assim, aquilo podia mudar tudo. Aquele podia! Aquele e só aquele! Fecharia os espinhos e o escárnio, deixaria de escrever e de ter pesadelos, deixaria para trás, na ilha, tudo longe... Não falou nada para o irmão porque nesses casos é melhor engolir o segredo.

Seu irmão não iria achar ruim, é preciso comentar que seu irmão o adorava e desde a morte do pai assumira um pouco esse papel, como vimos no caso de levar o tolo de volta à casa. Seu irmão, aliás, adoraria que o pequeno desse jeito na vida e encontrasse um cara bacana, esquecesse as bruxarias que o atormentavam, mas que continuasse a escrever seus poemas e contos escondidos! Seu irmão era um belo exemplo de um belo irmão do século 21.

Houve até um tempo em que importunava os namoradinhos ou pretensos namoradinhos com perguntas típicas de pai: faz o quê da vida. de onde vem. ah, mora com a família. a tua família também sabe. nós aqui sabemos de tudo e por isso somos felizes.

E vale a pena frisar que o irmão mais velho era apenas um ano mais velho que o pequeno!

Mesmo assim o pequeno manteve segredo de um novo amor arrebatado. O mais legal do pequeno era que a ele pouco se importava se conhecesse um homem se era gay, viado ou bicinha, se era hetero ou bissexual! Como veremos a sua história genealógica prova de que isso não existe! Tanto é assim que o próprio pequeno passara a adolescência entre meninas, as beijando na boca, e transando com elas, ou pelo menos, duas delas que foram suas namoradas queridinhas.
Embora tivesse o jeito afetado, não, nunca se pensa que um homem que transa garotas seja viado! O que causava certos desgostos aos amigos mais másculos, evidentemente.

Ele sabia que o amor passa por cosias do espírito que nem as bibas mais preparadas em termos de suas sexualidades expostas e corajosas, estavam de fato crentes nisso. Aliás, o fato de assumir sexualidade não é o fato de assumir certos amores. Acontece com os heteros também.

E poderia-se imaginar que esse nosso pequeno tinha muitos amigos gays e muitas amigas mulheres não-gays. Mas ele tinha o hábito de afetuar-se fraternalmente com homens heterossexuais e tinha essa facilidade por algo muito bem definido: em si mesmo, estes homens nunca burlariam a regra que o mantinha intacto. Estes homens o protegiam, porque sendo heteros não o tocariam. E não o tocando, nem o bulinando, nem o acariciando, cumpria aquela decisão íntima de ser intocável. Além do quê eram muitas vezes mais divertidos, sobretudo quando lhes falavam de coisas de amores e pediam conselhor. "Por que uma pessoa como você entende as mulheres melhor do que eu". E se ria e se ria.

Daí que por manter-se sempre tão distante de sexualidades, os homens gostavam de sua companhia. "Você é uma bicha diferente, nunca deu em cima de mim". E o pacto estava posto a serem amigos.

Dessa vez sim conseguiu se estender mais de um mês na cidade. E como havia previsto, tinha domado o próprio inconsciente rebelde! Ah, nem pesadelos nem o feio o acometiam. Ou era a influência do belo?

Há mistérios que são mistérios por conta de não serem nunca revelados. Por isso se dá o nome não é?

Deixe-me recordar que um dia o irmão saira de casa para jantar com os chefes. Sei lá, algo assim. Deixe-me recordar de que a campainha tocou. E ele estava lá.

Foi isso que transformou a felicidade de um amor em ódio imediato. Passou-se rapidamente em sua mente coisas de magia, coisas de espiritualismo, coisas de deus e destino! E coisas que aprendera nos livros espíritas e coisas que odiara dos satanistas! A humanidade é que faz a história, não era assim?! Não era assim nos livros e nos estudos? Não era assim na escola e no segundo grau? Não era assim com os escritores e com aqueles que escrevem biografias?! Por que chorava calado vendo o homem que quis parado em sua porta que talvez houvesse pensando (e pensou porque depois confessara) que bicha louca é essa que se pára!

Uma mente sadia iria ter ficado alegre, simples. Alegre.

- Não era aqui que morava o...?

- O meu irmão que mora aqui! Eu me lembro de ti, na quadra, andando na quadra, você é amigo do amigo do meu irmão.

- Então é o teu irmão! Ele é o teu irmão!

- Claro que é o meu irmão!

E o pequeno acendeu um cigarro. E já ofereceu outro cigarro ao rico sem lhe perguntar se era fumante. Era uma maneira também muito bem programada de acender cigarros para ocupar a boca quando a boca queria um beijo. O nosso pequeno sabia burlar os próprios desejos também, ah, como ele era esperto consigo mesmo.

A impressão não foi das melhores. O rico logo disse que odiava cheiro de cigarro. Mas o pequeno continuou fumando e nem pediu desculpas.

Mais uma vez era um ingênuo, como que o amigo do amigo do amigo do amigo não iria conhecer seu irmão? Mas o que que tinha a ver!!!!

- Tá, meu irmão não tá. Eu não sabia que eram amigos também. Você vai querer entrar? Mesmo com cheiro de cigarro pela casa. Sabe, meu irmão não se importa com o cigarro e ele já foi muito asmático...

E não parou de falar. O rico ficou na porta e depois entrou. Agora eram apenas dois homens num apartemento em que a tarde caía e o céu imenso se torna estrelado. Não é bonito isso? Deveria ter sido. Não fosse os dois homens terem tentado disfarçar o fascínio.

Como não era de seu hábito, não o pequeno não perguntou nada para o visitante. Então falava sem parar até que o visitante cansasse e fosse embora. Claro que se retorcia. E por que o outro deveria ser muito educado ficou ali ouvindo e cheirando de seu cigarro. Claro que dava vontade de perguntar: o que você tá fazendo aqui? Mas o pequeno tinha, como se sabe, a capacidade profunda de ir até o fim desta profundidade em suas decisões íntimas.

- Eu ia convidar o seu irmão pra sair.

Mas pra isso tem celular, telefone, sei lá! Pensou o pequeno. Mas não perguntou nada. E eles nem eram tão amigos assim!? O pequeno terminou o cigarro e foi ao banheiro, pediu licença, era tempo pra se pensar imenso em pouco tempo! Afinal, ainda que odiasse deus não iria deixar de perder a oportunidade de ter o rico ao seu lado por algum tempo. Esmurrou a mão no ar como havia aprendido. Tentou estrangular a angonia toda das ideologias ferozes que o assumiam e o resumiam e o sumiam também. Isto durou apenas um minuto. Não queria que o outro tivesse tempo, por exemplo, de imaginá-lo cagando.

- Eu fui lavar a boca porque também não gosto do gosto do cigarro.

- Se teu irmão não está, não quer sair comigo?

Quando era criança, no interior do país, ouvira sempre aquela história do demônio aparecendo com dentes de ouro e seduzindo uma mulher ao banheiro a tirava o couro e depois saía gargalhando com as patas amostras para que todos vissem e se horrorizassem de que te fato, ele, o demônio existia!

- Então vamos.

E caminhou para a porta. O cara sorriu. Você vai assim? E por que não? Eu estou pronto.

Era tão displicente o pequeno que dava gosto de ver. O cabelo raspado, só colocou a bota, estava de jeans e uma blusa cortada feito grunge do início de 90. Se quer sair comigo, é comigo, não é? Pensou e sorriu. No íntimo calculava desafiador: vamos ver até onde o diabo vai com isso.

1997 tinha sido um bom ano se não fosse todas as imprecauções do pequeno e os segredos do rico.

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