Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

Outono

Já era outono de 2007. Ano que durara dez anos.
Aqui, o recorte é outro: que de outono em outono corre em reverso a alma que se enlouqueceu na clausura da cidade em que se ouvia o mar e se via o mar e as nuvens e se descobriu os ventos sudoeste e noroeste, que eram os piores: de uivarem muito pelas janelas.

Estava livre, pequeno? Tem certeza disto? Nunca livre de si, não é?

Foi com essas palavras que chegara com uma mochila e uma mala. Palavras que ouvira de si, mas das que saíram de sua boca ao sorriso da mãe foram estas outras:

- Estou aqui.

Falando assim, até sorriu bonito.

- Você está mesmo preparado pra isso?

E qual dos meus leitores estaria, a ouvir de ver com os próprios olhos o que o outono lhe traria. Como todos os outros que lhe reforçavam o espírito. Todos os outros outonos de sua vida. Os homens não são nada comparados às estações, foi assim que pensou o pequeno quando se deu conta de que estava apaixonado, quando se deu conta de que não havia vagas no inferno para corpo tão etéreo. Feito o seu: magro e dançante.

Mas era dali dessas mentalidade doentias que surgiam obras, não eram. Chorava. Sem querer, chorava em todos os anos no iníco da estação preferida. Sabe que foi em Brasília onde tudo começou? Não poderia saber... Mas era um ano fantástico em sua vida. Tudo fugiu às suas asas egoístas deixando a família, mãe e irmãos, na época, aos 15 anos parecia um prodígio. Mas não era. Antes um pouco de completar 16 já estava lá, iria morar com o pai se não fosse mais egoísta que o filho e o colocasse de malas prontas na casa da tia.

Infeliz tia tia tia que mal soubera: abrigara o espírito do infortúnio. Ou da fortuna do pequeno que se instalara bem, o resultado era o mesmo: sob o céu da cidade moderna poder vagar... sonho de pequeno, já que odiara a ilha desde o primeiro pé esquerdo.

Em menos de um mês ele já era conhecido por todo o colégio e em dois meses ninguém o segurava, andava de mãos balançantes pela rua. Era dono de um incrível sorriso. Mas a sua demência mesmo só apareceria mais tarde. Sim estava aqui. E por que viera desde cedo encontrar a verdade?

Com suas pernas coturnadas e sua independência declarada a quem fosse. Que importava o pai? Importava sim, manter as roupas limpas. Nem fumava ainda. Não, ele não viera por verdade alguma. Verdade não é ser feliz. E o pequeno foi naqueles quinze meses seguidos. quinze meses seguidos era muito a quem num mundo vive de tanta problemática.

Como é tempo de ser visto. ele era: na sua cidade natal encontrara mais que amigos, tudo podia e tudo fazia sem olhos de mãe, sem olhos de pai, senhor apenas: de uns olhos castanhos tais que comprometia, ao certo, as sexualidades alheias. mas tinha a vó, que amava acima e abaixo, e que dela aprendera muito, sobretudo esticar as costas e erguer um sorriso de grande força quando alguém lhe falasse coisas inoportunas.

Quando a escola de segundo grau abriu mão dos uniformes, ele fora o primeiro ou o segundo, não me lembro, a entrar com sua camiseta rasgada as mangas e a goela. só precisava de silêncio para se vestir a bem quissesse ser. e a japonesa, sua primeira namorada, antes era a amiga perfeita.

Iriam as festas? Era novos demais, mas antes de entrar na sala que tal uma porradinha. que era sprite com cachaça, porradinha famosa essa, bastava darem um gole, bastava. matar aula na escola, podia, e portanto no meio das disciplinas chatas eles saíam, era escola moderna demais, mas só os bons sobreviviam. que importa ao pequeno ser bom, se a cada ano de escola repetisse e repetido continuasse vivendo dos mesmos e talvez, melhores divertimentos.

Voltava pra casa sempre no horário certo. e vez ou outra tirava uma boa nota. vez ou outra faziam festas de fim de tarde no cemitério. lá ninguém os importunava: turma de três, de quatro, de cinco, logo eram seis, e muitas vezes andavam em oito, quando estavam todos juntos, eram sim: um grupo de delícias.

Quando o pai viajava pegava a chave do apartamento e foi ali que provara do primeiro cigarro e do primeiro porre e foi ali que o primeiro menino lhe mostrou o primeiro pau: enorme. já não era mais outono. voltemos.

O passado te cansa pequeno, a cidade de floriano não lhe bastava, nem lhe existiu. morreria por aquele céu, aos quinze anos de um abril lindo, onde as folhas caem secas até que os garis varram tudo junto, tudo junto e os pés tenham se cansado dos barulhos bons de pisá-las todas. melhor que o vento sul, não?

Em breve todos os seus amigos usarão coturnos. em breve você usará o que os amigos quiserem. e breve você terá provado tudo. porque agora era essa a lei do pequeno: provar tudo o que merecesse e aos vinte anos, pensava o coitado: a lista estava completa.

Existia a gótica, a loira de cabelos longos, a japonesa, U2, Siouxsie and the Banhees. Existia o gatão, o maluquinho que trouxera o primeiro baseado e o RPG , o espanhol lindo, o chinês que lhe dava origamis de presente, até a pouco tinha um guardado, ave esquisita. Existiam os número: 105 e 404, existia um ônibus que dava uma volta inteira do início de uma asa ao final da mesma: às vezes caminhava quadras e quadras só pra existir na beleza que era a sua existência. existia, mas não saía com eles o playboy que adorava colar do pequeno, e se dava mal, e achava engraçado que os dois pudessem ser amigos nisso: em se fuderem. mas calma, o pequeno era virgem. os professores é que não gostava daquela dupla quando se divertiam. eram dois gêmeos em saula de aula: um aniversariava um dia antes do outro, e não saíam da sala, como permitido. por isso uns chatos aos bem certinhos. ali começou: the cure, the smiths, e de brasileiro só a banda do Renato que inspirava belas palavras da japonesa. existia a família da japonesa que de semana em semana foi se tornando mais sua família que a própria tia. e a prima que tocava flauta e era chata com isso. é que o pequeno odiava agudos, só não tinha consciência disso. se fosse sax, mas ninguém dá aulas de sax às crianças na Escola de Música, tia? A tia sim, cantava num grave delicioso, que ele gostava de ouvir. era sua inteligência vocal. secretária cheia de pânicos da vida. existia seu melhor amigo: um loiro esquisito e nerd. Que mais tarde, anos mais tarde, reencontrara casado com um cara na Ilha. Mas já não eram os mesmos.

O nerd, talvez, tivesse lhe dado o primeiro beijo. confessou nesse reencontro. era outono também. mas gostava tanto de information society que por um triz eles se ergueram, chegara o novo álbum e o pai. nada acontecera. e de quebra faltou dizer: uma gordinha que pintava os cabelos e se tornara amante de um dos primos. e lhe ensinara, de todas as coisas tolas que ela ensinava - pois esta gostava de mentir e roubar mesmo - a chorar na frente das pessoas, apenas levantando o queixo e respirando pelo nariz, como se a lágrima voltasse a dentro. E funcionava!

No entanto, sua primeira chapaceira, foi quando com esta turma começara a frequentar certos estúdios que a galera do rock, punk e havy metal alugava. eram amigos dos amigos. porque o pequeno só curtia de ouvido as coisas produzidas. naquele tempo já demonstrava interesse por escrita. como todo iniciante à poesia. mas era tão feliz, que por quê? escrever lhe tirava o tempo das alegrias.

Qual chapaceira melhor que a música? durante muitos anos fora assim. quase um careta, mais um amante. era uma banda havy metal sim, naquela tarde de não ir pra aula. sentaram-se onde a banda permitiu. estavam orgulhosos de ter platéia as quatro da tarde. horário bom até prum cochilo. a guitarra lhe entrou profundamente aos ouvidos e lembrou que dormira: aí era alto outono, alguns dias antes de fechar a porta ao inverno.

Foi assim o seu primeiro encontro com o capeta: dormira, numa nota quente e aguda, acomponhava a música de riso e dormira: a cidade toda estava destruída e uma voz lhe chamava evocando à força seu espírito para um destroços: buraco de onde saía aquela voz.

- Entra, pequeno, entra...

Quando a nota voltara a se repetir e o pequeno levara um susto. quantos minutos se passaram? Apenas vinte segundos, disse a japonesa. Você está bem? Tive um sonho, respondeu. Com quem? Com ele e ele quis que eu entrasse adentro, e se riu.

Uma força grande, um sentimento de absoluta energia brilharam nas veias quase aparecidas do nosso rapazinho. Que. Imediatamente quis sair dali: lá fora, vamos pra fora. Já sabemos que o som é bom. Já sabemos. Por um tempo fantasiou que começava ali o seu verdadeiro destino. Era sim, o início de um encontro, a sedução do demo. A voz não lhe saía aos ouvidos. E remorsou um pouco não ter podido entrar, já que a nota se repetira para que voltasse a terra e talvez contasse o que via. mas escondeu pra si.

- Ele quem? Reperguntava a japonesa.

- Não sei, uma voz, assim, bonita. e só.

No fim do ano já polgava e tudo. e adoravam quando o pequeno se lançava, porque era tão fácil de carregá-lo nos braços. talvez por isso amassem tanto o nosso petit. que no outono seguinte logo se preparava para novamente partir...

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