Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Outono dez

A tortura com o quadro durara exatamente uma semana. E exatamente uma semana a moça que fazia as comidas não sabia de nada. Onde a faca estaria? Nunca soubera, nem saberá, a não ser, é claro, que um dia chegue até aqui.

Mas o enfrentamento. O escândalo nos céus. Um espírito de horror. Todos se horrizaram do banquete que o pequeno fez da pobre alma do diabo. Repito alma, repito demo, repito. Dito. Dito-cujo. Cujo. Cujo nome nunca dito. E todo o prazer do mundo é seu, meu querido que matou o imundo esquartejando assim a última sombra da cultura que lhe restava.

Os parentes demoraram muito para, enfim, perguntar que diabos ele tinha feito daquela freira maldita? E na maior tranquilidade em 2008 o pequeno sorria dizendo: eu destrui.

Mas não a vida. Eles brindravam naquele dia. Eles brindavam naquele dia de inverno de 2008, um ano depois de sua loucura, em que o pequeno mais belo não ousaria ser aos quase 30. Ou 31? Ah, me desculpem, outono ainda. Era 30.

Pois vejam, se depois disso tudo, o pequeno teria medo mais de QUÊ? ou de QUEM? Do monte cristo certamente é que não. Nem de seu rico nem de seu feio que re-aparecerão.

Uma vida, por centenas delas, foi o que ganhara de deus, assim calculava, brincando nos campos de si mesmo. Cortejando a liberdade e as aparências.

Dizem que o amor é mais forte que tudo. Mas seria? E embora odiasse a idéia de escrever por toda a vida, e embora não soubesse como esperaria a vida. Ele não tinha mais angústias a tratar. Mas o mundo tinha. Deixemos o mundo. Começamos no amor neste parágrafo em que eu devo introduzir um peronagem muito, muito especial. No que chamarei: o inocente.

Matado o demônio. Ou acabado com ele para aquela encarnação. O pequeno voltara as suas atividades diárias, mas numa calma tão leve e sincera que ninguém imaginaria que ele ainda atentaria contra sua própria vida. A mãe de certo lhe conhecia os truques da alma. E ficara atenta aos seus próximos passos quando percebera que a tal faca voltar ao seu lugar.

Outono de desespero. Que ainda não chegara o ano em que sorririam. E se trato os anos com descuidado é porque de fato, o tempo não existia, naquele mar da Ziiiimbaaaa.

O restantes das tantas páginas ele terminara em duas semanas. Tudo tão rápido e claro em suas idéias. O novo romance está pronto! A mãe lia e se distraia com aquilo de ler o próprio filho. O irmão não tinha paciência para essa coisas. Mais gostava de pornografia, e até ganhava dinheiro com isso, fotos de mulheres nuas, fotos de mulheres que os homens de países distantes e oprimidos não podiam ver publicamente. Em que uma buceta era vista, que horror! Quanta tragédia, dizia a música daqueles dias.

Acabada a estação no dia em que completava 30 anos de viver e sobreviver de si e desgastar-se a si até a última batalha, não? Não última que ainda haveria vida pra se tratar.

Como? Agora eu que testo. Eu que mando e se eu tenho a caneta, eu a domino. Se minha mão se perder, eu perco a caneta e perco a vida, pensava o pequeno distraidamente. Decidira ver o que acontecia. Sentiu tédio, sentiu alegria. E sentiu que a idéia que lhe vinha, do romance seguinte, fosse genial! Mas o inverno trazia ódio em sua alma, ódio do próprio tempo, dessa vez como tempestade e trovões que eu digo. O tempo desses que a gente pergunta como está o tempo.

E a decisão de se deixar levar, seria conforme o inverno pedisse. Na metade do livro, ou mais que a metade da metade, veria, por que acreditava que era missão chegar ao fim de um conto ou qualquer narrativa fictícia. Assim, é que seu corpo burlava engenhosamente os acontecimentos incríveis a que se arriscava.

As idéias se entrecruzam, o amor virá, mais brevemente possível. Talvez lhe arranque os olhos, talvez lhe dê novo impulso. Talvez lhe dê um como? Resposta ao qual já não importava. Importava continuar desafiando quem fosse, dessa vez fosse o corpo físico. Que momento, em que página de seu Boa Noite Cinderala faria aquilo?

O Boa Noite Cinderela fora escrito justa e apenasmente para lhe provar que esteve certo. O que lhe viera brincando brincando foram as virtualidades, mesmo. Estas reais virtualidades do mundo da rede. Lembrou-se que havia uma disciplina humana, e a cultura que já estava novamente bem aceita em sua mente não lhe importunaria de pesquisá-la, era uma nova ciência surgida pelos fins do século vinte atravessando aquele vinte e um como o herói atravessava, despercebido e seco.

Neurociência brilhava em seus olhos. Mais uma vez, estando vivo, a quem não brilharia com tantos poderes adquiridos? A mim, talvez não, que caía no enredo para lhes contar a história do que é capaz o amor. Procurou por textos na internet e terminava jogos de vídeogames. O amor calava-se ao pequeno, como se espreitando uma porta, uma brecha que lhe entrasse de novo o peito ou adentrasse de alguma forma arrebatadora como lá nos velhos tempos.

Estamos falando do amor passional. Entendam. Porque amor de gente, o pequeno tinha e sabia distribuir, com sua presença, por exemplo, muito estranha naquela vizinhança de cidade pequena, acontecera até de ser admirado e de ser amado por uma família tão bem-vinda e querida mesmo, que via nele um pobre perdido, as crianças principalmente, um tio, uma tia, que parou ali para distraí-los. Dessa humanidade, da humanidade de sua família e de seus amigos, a toda esta, o pequeno era grato, bastava que respeitassem a sua falta de paixão carnal.

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