Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Julho 9

Se era um sofrimento duplo. Isto tinha de parar. De alguma forma teria. Só que neste tempo era o mesmo tempo do louco e não se apercebera ou começara a perceber que o feio também desaparecia. não estava mais lá quando deveria estar. só estava quando pressentido na rua: e o pararia assim? feito desmedido e lhe contaria que já sabia que ele estaria no outro lado da quadra? se o feio não sentisse a mesma coisa o consideraria louco e talvez até lhe desse uma bela porrada na cara. já que o assumido era o pequeno.

Não podemos considerar, a partir de agora, o que era o feio. o feio era o princípio do pequeno. mas deixo claro que o pequeno nunca nunca saberia o que de fato o feio sentia por si. um dia apenas, como já foi dito, o pequeno desesperado com aqueles dois sintomas já monstruosos, é que resolveu então ter-se calmo: se havia um tipo de amor de espíritos que naquela vida, vida concreta, ele desse jeito de um namorado lindo.

foi o que fizera. foi o que realizara. e o pequeno tinha todo esse cuidado de conquistar seus desejos íntimos e falseados pelo simples prazer de ter conseguido. com este menino sim a brincadeira ia longe. era meigo. tinham se conhecido numa boate apropriada. tinha os olhos verdes e todos o achavam tão querido que era gostoso de apresentá-lo à qualquer das sociedades pelo qual circulava. mas o caminho da afeição, como não poderia não ser é demasiado. o seu adjetivo nesta história seria o tolo.

o tolo era quisto por toda a sua família e o pequeno honrava a mãe por ter escolhido logo aos 18, já completara isso? como o tempo passa rápido mas não o desespero! seu par perfeito. o tolo morava longe demais depois da ilha e a mãe solicita aos dois outros filhos igualmente legais a convidarem o tolo a se unir à família. Ao pequeno nada mais fascinante: seria seu primeiro casamento! e aceito assim por todos tudo estava feito o planejado.

só não se prevenira de uma coisa impossível de se prevenir de si mesmo: em sua carne tinha espinhos. Com os passar das noites estava claro que as suas insônias já não poderiam ser curtidas e que era lhe doloroso dividir o corpo e uni-lo com outro por um todo sempre esquisito. O amor e a gentileza daqueles olhos verdes logo logo sucumbiriam numa dúvida cruel e mensageira de rancores tardios. O pequeno lhe traía? não! sim! sim? e o pequeno, o que respondia?

- Nunca.

Sim. Trair, além de se dividir com um marido rápido, se dividir com outro ainda?! Nunca. Era verdade. Só na alma, pensava, enquanto rezava também que aquela loucura da alma um dia passasse. Porém, a loucura do tolo é que crescia. Este sim viu-se - e deixou claro - enlouquecer obsessivo. sempre estava por perto. E sempre o vigiava. Mexia nas coisas do pequeno, cheirava seus espirros para ver se ali não havia catarro que fosse de saliva alheia. Além disso, adorado pela família. E o pequeno via-se encurralado em seu pequeno quarto que era agora deles! sem correr para os lados nem para a insônia um dia interrompeu num grito: não te amo mais. tudo não passou de um engano.

O tolo e o pequeno discutiram por uma noite inteira. Fato que se repetiria sempre, já que o pequeno evitara futuros namorados e maridos por conta desse fogo mesmo de não querer e não suportar ter-se a pele dividida.

Eram três irmãos. o pequeno era o do meio, mas o menor de todos.
o irmão mais velho levou o tolo de volta pra casa enquanto pregava um sermão no pequeno. era cobra agora para sua própria família. a mãe lhe dissera: você parece que gosta de brincar com o sentimento dos outros, nenhuma mãe teria feito isso! e você desperdiça, nem dá tempo ao tempo.
Não, não dá. A vida é mais rápida e mais doída, mãe, mas tu não sabes de nada.

- Sei sim, é aquele francês que eu odeio.

Resumidamente fora esse um diálogo de vários e vários meses.

Um dia passeando tranquilamente com o radar atento a ver quem sabe seu querido, o pequeno se pegou flagrado não, mas a espreita sim: o tolo o perseguia. O tolo o parou e o olhou muito sério. muito nervoso. muito de tudo de uns olhos que mudaram de verdes para desverdades. aquilo lhe causou medo. O tolo não falara nada e saíra.

Mais uma vez ele o perseguiu e pela última vez perseguido, dentro da boate apropriada, é que o tolo lhe disse em berros que ninguém ouvisse, graças a deus a música é alta, pensou o pequeno.

- Eu sei que tu sempre tivesse alguém, só não consigo ver quem é. Me mostra quem é? Quem é que está aqui? Quem, é alguém que eu conheço quem é? Foi por causa dele que tu não me quis? Foi? Essa mentira de não aguentar dormir juntinhos! Eu sei, a não ser que tu não sejas normal! Mas era tanto quando te conheci!?

Foi a primeira vez que alguém lhe bateu no rosto. Porque o pequeno não podia fazer nada nem dizer nada. Rntão não sou normal e então não sou louco. E então enlouqueci um pobre tolo. era melhor o tapa do que ter amado um feio.

Como quem dá o tapa é sempre aquele que se sente culpado: foi aí que o pequeno sentiu prazer. Fica com a tua culpa, pensou. O tapa já passou e continuou a dançar. O tolo não foi mais visto por dois anos, mas sempre lhe chegavam notícias de que sempre tolo o tolo perguntava pela víbora. Onde está o meu pequeno, perguntava aos amigos e os amigos respondiam que o seu pequeno está em casa dormindo.

Naquela mesma semana daquele mesmo tapa é que se percebeu do terceiro sintoma: se a mãe sabia de seu segredo amor e se o tolo tinha essa obsessão sinistra, se o louco - já o tinhaabandonado! - e se as pessoas da família o olhavam já diferente, não era fato de que por contágio as pessoas também sentiam!? E se acaso tivesse viajado demais no platonismo não seria crueldade divina dar provas de que não era viagem sua através dos outros? E se acaso? E se acaso? Como se perdia? Como transpareceu a todos o seu amor de idéias.

Foi aí que decidiu: mãe, quero voltar a cidade natal. onde lá eu vejo céu aberto e tudo é lindo. Onde lá não faz nem tanto frio nem calor intenso. onde lá a minha insônia é muito mais bonita, mãe, me deixa passar ao menos as férias naquele lugar que sempre fora meu paraíso antes de sermos ilhados nessa cidade de bruxarias! E a mãe, que não tinha muita grana, mesmo assim consentiu. ficaria dois meses na casa de tios. a primeira a tia por parte de pai via no pequeno um pequeno demonhinho já que falava tantas coisas perdidas e sem fundamento para uma mulher burocrata. O tio não era mais esperto porém mais divertido ficar com ele que morava então num bairro pobre muito pobre da cidade, mas a sua rua era a dos ricos. imaginem o que isso causa socialmente... A cidade natal lhe fazia tão bem como mais tarde descobriria os bens de um lexotan rosado.

A cidade natal sim era a substituta de tudo o que fosse amor. pois que fosse grande e cheia de arquiteturas tão arquitetadas e monumentosas. era o próprio paraíso construído pelos dedos humanos com cores de tinta cinza e branca naquela terra que já fora avermelhada. e aqueles asfaltos muito bem programados que se diria: uma cidade irreal.

Os seus planos, porém, eram o de burlar mais uma vez o destino e ficar ali. por que não? já havia feito de tudo. Em menos de um ano até se casara? já tinha até a carteira de reservista?! Agora podia fazer a faculdade ali. morar ali. viver ali. pensar nos bens materiais lhe faria muito bem. O que é uma cidade propícia ah isso era!

Não pensaria mais nos sintomas e se esquecia. O quê? Amores nunca tive, era o que falava aos parentes e ria. Até que uma após uma noite o feio lhe vinha em seus sonhos e pedia para voltar. Uma e uma noite, de uma em uma noite, essa tortura lhe vinha! Era o primeiro sintoma aguçado. Em poucos dias notava-se a amargura do rapazinho. Durou vinte dias apenas a aventura quando cansado desistiu de resistir.

Todos ficaram muito surpresos com a mudança repentina de sua postura. O jeito alegre agora era de uma morbidez tentada a se disfarçar. Falava no começo em ficar pra sempre e tão rápido assim partira. Que se dá na cabeça dos jovens, afinal?

Não. Não é na cabeça. É no corpo inteiro que não contente com os cinco sentidos inventou a alma pra confundir nossos destinos.

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