Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Outono quinze

Quinze quantos números da sorte fossem: o inocente bateu à porta e entrou.

Desajeitado, coitado, pediu para falar com o escritor. E com mil cigarros já fumados foi recebido com certo apreço. Finalmente o escritor sorriu? Parecia até que esperava que um dia ele chegaria desprevenido para lhe dizer coisas em silêncio. Jogava vídeo-game.

- Mas hoje é seu aniversário.

- Eu sei.

- Vocês não fazem festas aqui?

- Não na minha família. Eu pedi um gato de presente, mas minha mãe acha complicado. Meu irmão também. Depois que tivemos uma preta que morreu aqui. Não aqui onde moramos agora, já moramos na rua farrapos. Quer dizer, eu não. Eu nem tinha pra onde ir.

- Você é engraçado, sabia?

- Quer jogar?

- Eu vi que você gostou de uma das pedras. Daquelas vulcânicas e ontem eu passei o dia inteiro e trouxe esta.

Se o inocente pudesse saber o que fizera o dia inteiro sem comer o pequeno, se o inocente pudesse advinhar a guerra antiga que se retornava naquele espírito ruim, se a bruxaria nem do demônio bastava. Ou era vingança de deus por ter matado seu filho expulso também? Dois filhos mortos, jamais. Era a tua hora pequeno e um menino procurava predras para brilhar seus olhos sórdidos.

Claro que sabemos que o nosso vulnerável amigo não era insensível as doçuras e as risadas tênues que lhe vinham, nem aos choros ou aos soluços tortos de quem lhe concedia confissões sagradas do indíviduo. Restava-lhe continuar fingindo? Sim. O feio não lhe sairia a boca, o rico que lhe fugia, como tanto quis, agora o queria, novamente. E este menino com a pedra nas mãos? Ele existe? Não era melhor deixá-lo entrar um pouco ou quem sabe foi a sua persistência toda que rogou praga por havê-lo aberto.

Sorriu de novo, viu o inocente.

- Esta pedra me fará bem no inverno que tanto tenho medo e tanto tanto desejo.

Tinha o formato de um sabão perfeito e negro e brilhava, era mesmo, o inocente soube encontrar do mar algo que lhe fosse caro por todos os dias. Guardado hoje em lugar de trabalho para não esquecer que um dia fora amado sem precisar decifrar amor.

Passou o controle do game e fê-lo sentar-se ao lado. Conversava como se esquecesse de seus planos e de seus amores árduos. Se poderia, ao menos, deixaria alguém feliz por troca de pedras vulcânicas e sentimento humano. Até se parecia com sua poltrona puf de sentar-se como gordo, sensação nunca sentida do magricela, mas bem alimentada pela saúde imensa do inocente de olhos claros, claro... Não era um anjo da avenida estrela, era o recado: ainda que passe por cima dos mundos haverá alguém. Haverá.

Jogaram muito tempo. E as mãos pequenas e leitosas finas e delicadas de segurar sem parar o seu presente deixavam o rosto do rapaz desconcertado: ele não soltará a pedra que dei? Jamais?! E voltava à tv sorrindo e sorrindo.

- Eu vou passar dessa fase.

A irreprocidade do nosso herói foi a prova que precisava de si de que nem tudo poderia ser frio e de que embora houvesse uma hora de partir permitiria ser cortejado até o inverno. no dia seguinte.

Não cheguemos tão apressadamente ao futuro capítulo. Se estende dor ao inocente. Que talvez eu narre ou deixe ao lado. É melhor que o sofrimento contaminado não seja. Pena não ser desta forma de reais fatos acontecidos em corações terrestres.

É que a Personne miava incontente de ciúmes. Falar de outros como se traísse em póstumo os fatos que virão em 2008. No dia em que o DitoCujo perdeu a virgindade da sacada e caiu, como ela caía, escrever não é delicado. Dizia em seu roncado clássico.

- Mas não é assim Personne que os homens fazem ao protelar seus diálogos mais belos?

Miãun... Aquele dia 20 foi um presente e quando os olhos se cruzaram pouco, o pequeno já soube advinhar o futuro sangrado que causaria. Pena, não ser de outra forma o seu coração tão térreo.

Lembrou-se sem noção de tempo que um de seus infelizes causara certa felicidade assim, num ano de pneunomia, quando passava da rua dos farrapos à ilha a ponto de se formar, e tinha esse amor vesgo no seu esquecimento. Foi como tantos outros deixados pra trás, vinda as miseras racionalidades próprias com que manipulava os sentimentos ou um dos presentes cabíveis que lhe ofereceram os deuses por experimento. Fato é: foi experiência de saber-se iluminado, pequeno naqueles 2005 dourados de quase morrer e mesmo assim, sem casa ou destino, se formar com mérito 10. Há sempre um anjo experimentado.

Era pra ele que ao final de um capítulo, eu lhes dizia, o único que dos infelizes admiráveis. Ou não?

Voltemos aos amores felizes: não se pode dizer que feliz é o amor irrecíproco, mas dessa mesma lei é que surge às mais cenas delicadas de expressão, nem faz rir, mas de sorriso faz um bobo qualquer. A ilusão deixada: finalmente aberto o nosso herói nem pensou que pudesse causar ou se era culpado de ser amado ou não. Sou gente, pensava, e ele crescerá e descobrirá por si próprio o caminho das mentiras e daquelas que nos ensinaram a creditar.

Entrada do inverno: e nós veremos esses dois personagens se diluindo no amor que um queria e na morte de outro que não tinha a quem amar. Só o feio, só o feio lhe retumbava mais que o demônio, muito mais. Matado os mitos, sobram mesmo homens. ou os mesmos.

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