Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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sábado, 23 de maio de 2009

Orquidea03

Por isso é que algo o levou a miséria dos pobres? Não, foi um fator vital. Enquanto vitalícia era aquela energia magra: cigarrenta, provocantemente abusada em tudo o quanto podia fazer de desalimentar-se o corpo. As boletas, o álcool, o nada. As gargalhadas. A poesia suja. Ou não escrever para que no vão pudessem crer que não lhe valesse mais a vida.

Como conseguiu um emprego de educador, resolveu que assim seria. Quem sabe a paixão pelo mundo infantil lhe trouxesse certa comiseração de si mesmo ou paixão que lhe viesse a brilhar os olhos por matéria. Mas ao contrário disso, a provocação da realidade era outra: nada temia e nada se surpreendia com seu amor humano. Era fato que o amor era humano. Era simples que fosse. Sem maldade, sem defeitos. Era amor. Mas que nele não plantasse nem um verso, fora este tipo de amor que lhe arrebatou o de si mesmo e os outros também?

Passionalidade alguma num fantasma tão atraente de certezas. Era mais pura dúvida de uma mente inquieta, embora equilibrada por suas muletas.

Vamos considerar a sua inteligência, metodologia existiam para ser aplicadas, no que ele realizava muito adequadamente. Ao menos sabia justificar seus erros. E acertar em alguns saltos qualitativos nas técnicas teatrais que oferecia em troca de ser educador. Como cumpria o protocolo. Mas no fundo, nas pausas e nos tropeços, ao passar de cidade e ilha, ao chegar em casa, entre uma ficção e outra, ou tormenta que fosse, teve os olhos voltados para um vácuo imenso. Certo é que criara uma história em sua mente: não era sonho, era uma história bem bonita, colocava o nome do feio numa plaqueta de madeira e ouro num monte frio que nevava, ali, esperava nevar mais e morria.

O rico não lhe dera mais sinal, prova de que o amor carnal ou materializado também finalizava. Que homem procura tanto por outro homem assim? Neste caso, específico, sentia-se fidedigno, ao menos um desentrelaçara de seu nó fatal.

A verdade lhe calculava nova ilusões: no seu primeiro casamento, aos 19 anos, o nosso pequeno herói já sentira a dor da pele tocada por uma noite inteira e já sabia de antemão que por pele nunca aguentaria mesmo uma passagem terrena tão intensa que lhe quisesse noite e noites inteiras. A não ser o platônico amor: nenhum outro lhe consumiria. O platônico amor lhe garantia o seu próprio deleite, a sua própria ilusão, a ilusão só sua de ser seu apenas e de não se compartilhar por entre dedos. Já não bastava que era necessário escrever idéias? E transmitir isso? Que loucura louca... bicha. Louca que lhe sucumbia sem que tivesse a mínima luxúria, embora a provocasse ainda.

Mais tarde conheceu o termo spin. E spin o remetia ao termo espírito que por fim lhe entregou a obra. Orquídea Fantasma era um termo já criado, porém insatisfeito. Era preciso destrinchá-lo, era preciso ir até o fim com ele.

E a placa na neve suava vagarosamente, porque suava.

Certo dia, como nos contos de fábulas, o pequeno saiu de si e disse ao mundo: eu amei e amo. E o nome dele é feio.

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