Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Julho 10

Ele voltou numa tarde sexta-feira de avião, porque era mais rápido não porque fosse mais cômodo. E já aquela distância tinha sido geopiscologicamente aproximada. Entre duas cidades o movimento de um veículo foi tão rápido que não lhe deixou sequer pausa: nem podia fumar.

Na manhã do sábado seguinte estava decidido. Por lógica calculou dois destinos: um, que se estivesse certo que o feio sentisse como ele sentia, talvez pudessem se ajudar mutuamente. E outra, preparar-se para o vexame de lhe falar coisas doentias.

Um bicha falando para um hetero coisas doentias. Nâo é sempre assim que se espera de nós? Melhor mesmo se o pequeno tivesse sido dessas que enganam o homem com o álcool e lhe passa as mãos nas pernas, depois deita a cabeça sem enfrentar a masculinidade alheia, finge ser fêmea para poder usufruir um pouco do macho e o macho se descobre mais macho ainda porque em vez de beijar outro macho feriu sua boca de esperma. claro que muitos se previnem de camisinha.

Porém embora fosse possuidor de várias espertezas e defeitos nunca se rebaixaria a tal atitude. O pequeno tinha desse tipo de orgulho próprio como se viesse de gerações e gerações da elite. era o sangue português untado ao arisco dos indígenas laçados. O pequeno se compraz até hoje de nunca ter realizado ato tão asqueroso e vulgar como esse relatado acima. O pequeno não tinha rédeas, o que por obviedade a frase faz descaso ao romance, mas é que não ter rédeas significava mesmo nunca daria o gosto a um homem de vê-lo curvado por um pênis.

Ele pegou no telefone com muita coragem. tremeu um pouco. tentou sintonizar seus poderes mágicos. queria ter dito que sabia que não era para eles ficarem juntos naquela terra. ou naquela ilha. queria ter dito, escuta, meu feio, eu não tenho vontade de ficar contigo mas ouve o que eu sinto... e isso é monstruoso pra mim.

Mas quando chamaram o feio ao telefone, e finalmente o convidou para sair, para que conversassem apenas, o que ouviu foi isso: - não, não posso. toda a família está aqui.

Concluiu imediatamente que se não podia era que a segunda hipótese do capítulo estava correta. Se sentiu aliviado, ao menos sabia que o feio amado não era pelas mesmas dores acometido. Nem era recíproco. pois se o fosse, a reciprocidade daria em algo parecido a sentir das mesmas dores acometidas.

Sendo a segunda hipótese a correta logo apressou-se em pedir desculpas e a dizer com seu orgulho muito dócil que o perdoasse por qualquer constrangimento causado e agradeceu do fundo de seu íntimo mais bonito que tivesse existido em sua vida. Prometeu também que nunca mais se veriam. Mas não era uma maneira de se proteger do rídiculo? Quem não prometeria tal coisa? Se foi lido daí por orgulho, daí foi lido.

Quando desligava o telefone foi que o feio interrompeu:
- Espera. Tem uma coisa que eu queria saber...

Aí parecia um pingo de esperança naquele engendrado de horrores:
- O quê?

- Era tua a rosa branca que eu recebi há um ano atrás?

O pequeno engoliu o passado e respondeu que não. Como não? Se revoltou baixinho o feio. Há muitas pessoas no mundo, muitas meninas quem sabe, como saber, quem gostou de ti.

E eles de fato nunca mais se viram. E, como vocês perceberam, ao pequeno não foi dado nem a chance de expor suas doenças. Não chorou. Teve mais orgulho de si e por isso comemorou com uma música alta: que estava livre! Mas por que a rosa branca? Por que se não tinha o interesse de ouvir nada querer saber de prova exata da sua boca que a tivesse enviado? Que tipo de monstro é esse feio? E o odiou quem sabe por quantos anos.

Agora estava sozinho. Tinha o olhar de reprovação da mãe, que espírita, nunca lhe falava nada, apenas o deixou vagar, sozinho e frio e soberbo de si, por no mínimo ter sido corajoso. A mãe nunca soube de tal telefonema, não por boca própria naqueles dias. Ao menos.

Para a cidade natal não voltaria mais por dois motivos: a mãe já tinha gastado muito com seus vinte dias e o outro, porque tinha medo, se voltasse não voltaria a ter sonhos de novo com o feio?

A insônia em seu quarto era a melhor companheira e os amigos também. Mas nunca falaremos destes, posto que estes são muitos e não fazem parte da história de amor propriamente dita. Aliás, muitos deles nunca ousaram imaginar que havia no nosso pequeno uma história assim.

Era um tempo de não haver Personne. Vocês conseguem imaginar isso?
Mas como estas heroínas de romances realistas juntou as moedas de sanidade e decidiu por íntimo inquérito que ninguém mais o tocaria. Por um ano cumpriu a promessa. Nem um beijo nem um toque nem um carinho. Saía nas noites e saía nos dias. E aqueles que lhe dessem ou quisessem lhe dar o mínimo afeto não era tratado com desprezo, apenas com distância. No que ele sempre respondia, de início gentil: é melhor deixar para outro dia.
Um dia, claro, que nunca viria. E assim ardiloso conseguia escapar de várias mentiras. Pois de fato não seria mentira querer se untar a estranhos só por serem bonitos ou para substituírem o insubstituível?

Se deu conta de que da própria cabeça, nunca pensara em beijar o feio. e portanto, se deu mais conta de que nunca fora amor mas quem sabe um tipo de ódio que ninguém ensina. foi daí que surgiu a primeira idéia do primeiro conto escrito. e faminto escrevia o conto e sentia tanto prazer que era esse o seu destino: escrever, escrever, escrever e ficcionar a vida com os horrores que ele de antemão já sentira. ou burlar os horrores com horrores maiores.

Nunca se mataria, por exemplo, nunca pensar nessa situação: mas era um de seus temas prediletos. Talvez por uma singular inveja. Ele que não conseguira nem matar o amor de engano construído.

Fora um dos anos mais produtivos de sua vida. Na insônia ele não sonhava e ao mesmo tempo se entretia. Chorava, urrava, sentia coisas, mas tudo obra da ficção. Agora sim era ficção! Era a ficção sua maior e predileta realidade! Fictícios seja, ó bem aventurados da cabeça!

E era. Os louros viriam e as glórias também, porém, pobre pequeno, outros sintomas estavam por vir.

Se apaixonou também pelo diabo, pelos espíritos umbralinos, se aproximou destes como era fácil o seu espírito de ser próximo de sombras, se apaixonou pelo teatro e por outras artes. como a do fingimento já dito. se apaixonou por si mesmo em todas as noites que passara sozinho e isso lhe dava o calor da vida, vibrava e estendia em pensamentos só seus imagináveis e seus puros porque ninguém lhe diria: pare de pensar! e ele ria e gargalhava dessa bela natureza que o pensamento não era algo a ser comensurado nem censurado, já que estava dentro.

e dessa vez nem pensava em burlar seu destino, o destino lhe provava que tinha lhe dado a caneta e que talvez fosse preciso passsar por esses assombros mesmo a custa de ter o que escrever com intensidade e sem medo. não, não teve medo e logo quando dormia por cinco anos teve pesadelos e se deleitava deles porque não eram mais de amor. pesadelos a gente acorda feliz de sê-los.

e todas as referências que ele tinha do amado, todas elas pouco a pouco aprendera a brincar com elas, ele inventava novas histórias que pudesssem as burlar. digo isso pois é fato de que quando desenganado o ser humano daí é que começa a receber informações de todos os lados, cheiros, na tv, na rua, em gente falando em francês, em cabides e outras coisa que o lembravam do feio e que o repugnavam. Foi uma lavagem cerebral divertida.

Engoliu aquele nome por mil vezes que pudesse até o nome deixar de ser nome. e ser saliva. e a saliva secar à boca. e não ser preciso engoli-la mais.

em poucos anos os seus primeiros contos foram premiados. não a nível colegial ou universitário. a nível público, estadual! Num livro que ele entitulara: O ódio e contos ordinários.

Então, a parte doce de seu espírito umbralino, recordou-se do feio e por um lapso de bondade inata e de gratidão aprendida de tanto que a mãe lhe ensinara, sentiu que devia, por fim, enviar-lhe uma carta de agradecimento e um exemplar. Contraditório, não? Se contássemos com o título da obra. Mas é que para o pequeno tudo já estava muito discernido. Uma coisa era ficção materializada outra coisa era a realidade enganosa. E dava graças, não a deus, porque o abandonara para principiar em sua estada de humano criador.

Além do que, entre o telefonema e o livro havia voltado a cidade natal e fora lá, pelos anos de 1997, que conhecera seu novo amor e obtivera a verdade de que sua carne não precisava ser desperdiçada tão duramente. principalmente em dias ainda muito juvenis.

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