Pequeno Prefácio do Autor

2008 é nome da obra em que me insiro num universo da passionalidade ficcional.
Não sei se ao leitor agradará o ritmo e os recortes ou os possíveis surgimentos, sei sim que entre a verdade e aquilo que inventamos há um universo inteiro: é nesse universo que estamos no ano de 2008.
Prefaciando cada capítulo meu, encontro Waldo Motta, poeta dominador de almas que é.

O último capítulo Réquiem está na barra acima por um motivo último.
Os capítulos são interdependentes podendo ser acompanhados sem ordem ou pela ordem do leitor.

Classificação etária: maiores de 16 anos.

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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Orquídea0Y

Dizem que quem recebe um louco já era louco anteriormente e que se era são, coitado, nunca percebeu que santidade não há quando a semente é posta no beijo simples das bochechas e no toque maleável e discreto com que o pequeno desenhava carinho fraterno apenas por seduzir os coitados e deixar claro a si mesmo que não era o louco único da história.

Breve seria uma biografia de tragédia, mas graças a deus, deus criou o homem e suas formas de manipular a natureza, gerar renda e saúde psiquíca a quem pudesse tê-la de imediato. E, se se tornava um bom educador, traía ao mesmo tempo alguns amigos, provocando-lhes, depois do amigo leal possível de amor de vida tranquila, jogos de pensar vez ou outra: por que não ao pequeno?

Diferentemente dos outros, nisso e no mundo inserido, dos homens que amam os homens, poucos puderam lhe apontar na rua e dizer: foi este que comi. Era nisso que o pequeno se vangloriava e mais ainda de ser alvo do desejo daqueles que o procuraram por uma vida longínqua e sem traições. Mais te traio agora, dizia não o pequeno, te traio agora quando evito pensar em tais considerações. Não, não. Não. Era com o corpo e com sua falta de sexo que negava: e negaria, e negaria. E só aceitaria no seu leito, o lexotan tão bom de dormir.

Para não pensar em amores ou possibilidades, numa esquizofrinia que lhe ocorreu dos últimos anos para então, já que não ficara com ninguém e com quem ficara não copulou: restou-lhe pensar que um bichano, um gato, preto, malhado ou cinza, lhe faria boa companhia, teriam suas telepatias de bicho e teria ao menos um pouco de afeto com pêlo alheio.

É verdade que até hoje a Personne reclame seu posto de direito e o DitoCujo dito ainda ouse vez ou outra dormir com o pequeno. Porém, só por um tempo. Sua pele, até aos bichos é um tanto espinhosa ou sente espinho demais ao compartilhar a vida?

Se considerarmos a psicopatologia o pequeno foi fruto de horrores que se tornou um fantasma.

Agora voltemos a sua vítima deliberada.

Certa vez ouviu de um infeliz que provocava amor ou por amor se iludia apenas por conta da escrita. Aquilo não lhe saiu da memória e como bem precisasse de um amor para ter história a prolongar seu personagem afeto, resolveu se endireitar num olhar mais atento de um colega seu. Daquela atenção calculou o desejo. E, com o desejo adquirido, por meio de inúmeras táticas bem simples e singelas em que o dorso passa não mais despercebido é que se entregou num misto de cuidado fraterno e preocupação carente de amores: o olhar bem compenetrado nos olhos do outro que vibrava ao seu mais puro sorriso. Claro que o outro não era tão tolo e percebeu a malícia do intento, mas percebendo apenas nunca tiraria a prova concreta.

No que o pequeno deliberava que era tão melhor seduzir por intento. Um prazer novo com que brincasse de verdade, não como sofrera antes e nem por pena e consideração de ser amado, o pequeno queria a história de seu romance escrito: orquídea fantasma tinha sua orquídea num paralelo verdadeiro. E disse ao mundo e a todos, aqueles que acreditassem nele, que estava mesmo amando. Finalmente, dizia, finalmente meus amigos e caros amigos, eu estou apaixonado por alguém.

- Quem?

- Um cara hetero que não quer nada comigo.

Assim ipsilon. Mas o mistério maior nem era esse. O mistério maior estava por vir. Era quando o pequeno precisava de forças pra enfrentar o mundo evocando o seu amor pelo feio, tão platônico e bonito, que vinha brilho em seus olhos. Era esse brilho que o tolo hetero acreditou ver que o pequeno tinha, só tempos depois é claro que o pequeno descobrira, que não foi por conta de cálculo e maquiavelisses que seduziu o homem, mas porque amou o mesmo e antigo amor sem nome.

A estas alturas, como enfrentava com muita prática a pobreza atendida, evitava de se lembrar do rico, porque lembrar do rico, era lembrar que um dia poderia estar em outro lugar, no nordeste talvez, encontrado paz alguma em consideração aos que lutam tanto para ter uma roupa suja e um argumento sincero de ódio pela vida. Cada dia portanto era lhe difícil amar o rico que portanto enriquecera a custas dos outros.

O pequeno que amara o Rio e que amara seus mendigos, sentia um certo tremor nas pernas ao pensar no rico, ainda, como quando se conheceram. E como quando ainda pensava que a cada toque do celular fosse ele lhe evocando qualquer corrida e tropeço e nova e novamente lhe evocando: talvez seja eu teu amor verdadeiro.

Com um jamais de romances antigos, o pequeno respirava novamente duas carteiras de cigarro para não pensar nesta agonia ou verdade possível. Sim, graças ao pequeno por ter se criado com orgulho próprio. Mataria seu próprio ego mas jamais jamais jamais jamais.

Ipsolon. Era tão bom ter o carinho e a bravura do homem que lhe dedicava horas e horas em lhe assustar com cuidado sobre a vida violenta. E quanto mais o pequeno evocava o feio em suas preces, mais o feio aparecia, surgia ou transmitia seus pensamentos ao homem que um dia, depois de oito meses, se rendeu ao lar doce lar que o pequeno construiu pra si e finalmente lhe entregou o fim da narrativa.

Na semana seguinte em que ficaram o OrquídeaFantasma fora terminado com um prazer absoluto que há muito nenhuma outra criação sua lhe transmitira: era gozo novo! Dizia a si mesmo, ter manipulado, coitado, a vida.

Porém é desses oito meses que iremos tratar. Porque neste ínterim foi que o pequeno descobrira muito do que foi dito no presente capítulo.

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